No domingo, o presidente ordenou que o Departamento de Justiça investigue os esforços do FBI em relação à sua campanha
Folhapress
O presidente Donald Trump não apresentou nenhuma evidência concreta até aqui. Mas continua a sustentar que um espião enviado pelo FBI, a polícia federal americana, sondou sua campanha à Presidência durante as investigações sobre a interferência russa nas eleições de 2016.
“O ‘spygate’ pode ser um dos maiores escândalos políticos da história!”, afirmou o republicano nesta quarta (23), em redes sociais. É um novo acirramento da ofensiva de Trump contra o Departamento de Justiça, que é acusado por ele de promover uma “caça às bruxas” contra sua administração.
No domingo, o presidente ordenou que o Departamento de Justiça investigue os esforços do FBI em relação à sua campanha. O que se sabe até aqui é que a agência usou um informante, segundo o jornal The New York Times, para sondar membros da campanha de Trump em 2016 -prática que, argumentam os investigadores, é legal e regulada.
O informante, de acordo com o New York Times, contatou dois integrantes da campanha de Trump que haviam feito contato com russos, e teria sido acionado apenas depois de o FBI descobrir sobre as reuniões. Sua identidade não foi revelada.
“O uso de fontes humanas confidenciais pelo FBI é estritamente regulado e essencial para proteger o país”, declarou em redes sociais o ex-diretor do FBI, James Comey, que liderava a investigação na época e lançou recentemente um livro com críticas ao atual presidente.
Trump, do outro lado, afirma que a tática foi usada “para propósitos políticos”, e lança suspeitas de que a ordem tenha sido dada pela administração do democrata Barack Obama, a fim de minar sua campanha, em prol da adversária Hillary Clinton. “É um criminoso do Estado profundo”, declarou o republicano.
O presidente não está sozinho: nesta terça (22), um grupo de 19 deputados republicanos assinou uma resolução que pede uma “investigação sobre o investigador”, argumentando que houve abusos e partidarismos no inquérito conduzido por Comey. Os congressistas acusam o FBI de ter “plantado” um informante para se infiltrar e monitorar a campanha de Trump.
Comentaristas políticos também vocalizaram as críticas do republicano, como o juiz aposentado Andrew Napolitano, que afirmou à Fox News que “está claro que os olhos e ouvidos [do FBI] estavam todos sobre a campanha de Trump”.
Por outro lado, houve quem condenasse os ataques do presidente ao Departamento de Justiça -e o comparasse a Richard Nixon, que renunciou depois de ser acusado de obstrução de justiça durante as investigações do caso Watergate.
“O fantasma de Nixon deve invejar as manobras nervosas de Trump contra o procurador especial [Robert] Mueller”, afirmou o cientista político Larry Sabato, da Universidade da Virgínia. Mueller é o atual responsável pelo inquérito do FBI sobre a interferência russa nas eleições de 2016, que vem se aproximando de membros da campanha de Trump.
Para Sabato, a intenção de Trump é minar a imagem de Mueller, e colocar em dúvida as suspeitas sobre o suposto envolvimento de sua campanha com russos.
Nesta quinta (24), o Departamento de Justiça irá promover uma reunião sigilosa para discutir o tema do informante com deputados da Comissão de Inteligência da Câmara, que pediram acesso a documentos sobre o episódio. O atual diretor do FBI, Christopher Wray, estará presente.
Há a expectativa de que venham a público documentos ou informações sobre o tal informante -e que esclareçam se ele pode ser, como argumenta Trump, qualificado como um espião.