Exército israelita fez pelo menos 16 mortos na resposta ao início da Marcha do Retorno, que deveria durar seis semanas, e colidir com abertura da embaixada dos EUA em Jerusalém. O Conselho de Segurança da ONU vai reunir de urgência esta sexta-feira à noite.
MANUEL LOURO e CLARA BARATA
O exército israelita matou pelo menos 16 palestinianos e deixou 1400 feridos ao reprimir protestos na Faixa de Gaza. Uma dos mortos tinha 16 anos. Tudo começou quando tanques israelitas mataram um agricultor, que estaria a colher salsa, horas antes do início de um protesto de seis semanas organizado pelo Hamas junto à fronteira com Israel. O Conselho de Segurança da ONU marcou uma reunião urgente para a noite desta sexta-feira. A reunião foi pedida pelo Kuwait e vai decorrer à porta fechada.
Foi o dia mais sangrento em Gaza desde o conflito de 2014 do Hamas com Israel – em que ambas as partes foram acusadas de crimes de guerra. Tropas israelitas mobilizaram tanques e uma centena de atiradores furtivos para controlar a multidão de palestinianos que acorreu à fronteira com Israel para participar na Marcha do Retorno.
Com esta marcha, o Hamas, o movimento islamista que controla a Faixa de Gaza, pretendia iniciar um período de mobilização contra o bloqueio a que há mais de uma década Israel sujeita esta região palestiniana que duraria até 15 de Maio. Nesse dia, assinala-se a Naqba (o dia em que 750 mil palestinianos foram deslocados das suas terras, em 1948, durante o conflito que levou à criação do Estado de Israel).
Os descendentes de grande parte dos que foram obrigados a partir fazem parte dos milhões que vivem hoje em Gaza, uma zona costeira bloqueada por Israel, onde grassa o desemprego e a falta de perspectivas de futuro. Os esforços de reconciliação entre o Hamas, que controla Gaza, e a Fatah de Mahmoud Abbas, na Cisjordânia, falharam no início do mês – sinal disso foi o atentado contra a comitiva do primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana.
“Quero dizer ao mundo que a causa dos nossos avós não está morta”, disse à Associated Press Asmaa al-Katari, uma estudante de história que estava a participar nos protestos, descendente de refugiados palestinianos que viveram em tendas quando foram obrigados a fugir do que é hoje o sul do deserto de Negev, em Israel.
A 14 de Maio, Israel comemora os 70 anos da sua fundação e abre a embaixada dos EUA que Donald Trump prometeu para Jerusalém, depois de reconhecer esta cidade como a capital de Israel.
O Ministério da Saúde de Gaza e testemunhas dizem que o agricultor Omar Samour, de 27 anos, foi atingido por tiros de tanque enquanto apanhava salsa num campo, informa a BBC. O exército israelita confirmou o disparo, após o que foi considerado “actividade suspeita” perto de uma cerca de segurança.