Dirigentes fizeram coro ao presidente argentino, Maurício Macri, que cobrou a soltura dos presos políticos
Os chefes de governo dos países do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), reunidos nesta quinta-feira (21), em Brasília, na 51ª Cúpula do Bloco, exigem a abertura política imediata na Venezuela e o fim da perseguição à oposição no país.Fazendo coro ao presidente argentino, Maurício Macri, que cobrou a soltura dos presos políticos, o presidente Michel Temer também mandou um recado ao presidente venezuelano Nicolás Maduro:
“Estamos e continuaremos a estar ao lado da liberdade de expressão, da separação dos poderes, dos direitos humanos. Queremos, aliás, que a nação venezuelana, de volta à democracia, possa também voltar ao Mercosul, onde será recebida, naturalmente, de braços abertos.”
Durante a cerimônia, Temer também passou ao presidente paraguaio, Horacio Cartes, a presidência rotativa do bloco pelos próximos seis meses, período no qual os quatro países-membros vão envidar esforços não só para assinar o acordo comercial com a União Europeia, que se arrasta há quase 20 anos, como também buscar aproximação com outros blocos, como a Aliança do Pacífico, e países, entre eles Cingapura, Coreia do Sul e Canadá. O encontro também foi prestigiado por representantes da Bolívia, Chile, Equador, Guiana, Colômbia, Suriname e Peru.
Em Brasília, onde acompanha a série de reuniões desde cedo, o presidente da Delegação Brasileira no Parlamento do Mercosul, o deputado federal Celso Russomanno (PRB-SP) diz que, por várias vezes, até a suspensão do país do bloco este ano, os quatro sócios do Mercosul alertaram a Venezuela sobre as consequências do não cumprimento de uma série de cláusulas econômicas do bloco e o desrespeito aos direitos humanos.
“As atitudes que ele vinha tomando (Maduro) feriam o Protocolo de Ouro Preto (de constituição do Mercosul), que estabelece regramentos inclusive de direitos humanos e democracia. Infelizmente isso não está acontecendo na Venezuela. Por esse motivo, o Mercosul tomou a decisão de, em agosto, suspender o país. Essa questão se torna a cada dia mais grave”, diz o parlamentar, acrescentando que a crise venezuelana tem acarretado uma imigração sem precedentes no Norte do Brasil, com milhares de pessoas fugindo para Roraima, que já não tem condições de acolher mais de 30 mil refugiados.
Russomanno diz que o Mercosul tentou, sem êxito, que uma delegação do bloco fosse recebida na Venezuela para propor alternativas de diálogo entre governo e oposição para mediar a crise. “Ele (Maduro) instalou uma Assembleia Constituinte, passou por cima do Congresso, que tem maioria de oposição, e passou a praticar a gestão do país com autoritarismo, e isso o Mercosul não pode admitir. Para que o bloco exista, o pressuposto para sua existência é o respeito à democracia e aos direitos humanos.”
Na agenda econômica da cúpula, o presidente da Delegação Brasileira no Parlamento do Mercosul diz que o Brasil tem muito o que aprender com a União Europeia no que diz respeito a políticas protecionistas, com a criação de barreiras alfandegárias, e mesmo com os Estados Unidos, que com frequência impõem cobrança de alíquotas para importação de produtos siderúrgicos brasileiros, como forma de proteger sua indústria. Para Russomanno, o adiamento do acordo Mercosul-UE para 2018 não deve ser visto de forma negativa, uma vez que há um campo imenso de oportunidades em outras regiões.
“Temos outros mercados que cresceram, como o fechamento de acordos com o mercado chinês e com alguns outros países da Ásia e do Oriente que vão começar a adquirir produtos do Mercosul. A gente tem a celebrar as conquistas que o bloco vem adquirindo: temos a Bolívia agora entrando”, afirma o parlamentar. Russomanno acredita que com a posse de Sebastián Piñera na presidência do Chile em fevereiro, e a de Pedro Pablo Kuckzynski, no Peru, no ano passado, ambos de tendência neoliberal, a aproximação entre Mercosul e Aliança do Pacífico ganhará novo fôlego no ano que vem.
“Estamos trabalhando nessa ferrovia Atlântico-Pacífico (que ligará o Porto de Santos ao de Ilo, no Peru, passando pela Bolívia). Discutimos isso na reunião de ontem. A cada dia, os países da América do Sul sentem necessidade de se juntarem em blocos para poderem negociar em comum. Para que a gente exporte pelo Pacífico, ou a gente tem que ir lá embaixo no continente ou passar pelo Canal do Panamá, o que faz com que nossos produtos cheguem a um custo muito alto”, finaliza o parlamentar. Com informações do Sputnik.