O médico brasileiro Leandro Totti Cavazzola, referência em cirurgia robótica, desenvolve treinamentos com médicos do país árabe na área há cinco anos.
Uma parceria entre brasileiros e kuwaitianos tem trazido muita evolução para uma área médica importante do país árabe: a cirurgia feita com robôs. O porto-alegrense Leandro Totti Cavazzola, de 52 anos, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), cirurgião geral e especialista em cirurgia robótica, tem sido o principal responsável por essa parceria.“O Kuwait não tinha nenhum robô e eles vieram conhecer um pouco dessa tecnologia aqui. O Brasil, que já faz cirurgia com robôs desde 2008, acabou se tornando referência para o país árabe.”, disse Leandro.
“Entre 2014 e 2015, um grupo de médicos do hospital Sheik Jaber Al-Ahmad Al-Sabah, um dos mais importantes do país, fez um treinamento de um ano no Scolla, que é um Centro de Treinamento Cirúrgico de Curitiba, onde eu estava dando uma palestra de cirurgia minimamente invasiva com robô. Depois dessa primeira visita, mantivemos contato.” A compra do primeiro robô Da Vinci, usado em cirurgias digestivas e urológicas, aconteceu em 2018 no Kuwait. No ano seguinte, Leandro foi chamado para ajudar no treinamento dos médicos locais. A parceria deu tão certo, que entre 2019 e 2024, o brasileiro já foi até o país árabe cinco vezes.
Além dos treinamentos, o profissional, ao lado de médicos locais, já fez cirurgias complexas, entre elas a reconstrução da parede abdominal. “Eu fui uma vez em 2019 e depois já veio a pandemia. Em 2023, depois que a situação melhorou, eles me chamaram novamente para treinar mais profissionais e desde então tenho ido para lá a cada seis meses.”
Em julho deste ano, o médico fez um treinamento importante para médicos experientes e também para residentes de cirurgia robótica e minimamente invasiva – algo que ainda não tinha sido feito. Com data pré-marcada para o começo do ano que vem, Leandro fará um novo treinamento, que terá duração em média de uma semana. “Após o primeiro treinamento em 2019, os médicos árabes já estabeleceram uma série de métricas e começaram a fazer cirurgia sozinhos. Com uma formação excelente, eles sempre me recebem muito bem e aprendem rapidamente sobre o funcionamento do robô.”
Robô na cirurgia
Muito robusto, o equipamento médico ocupa de cinco a sete metros do espaço em uma sala de cirurgia, é operado por dois cirurgiões e um técnico, que conhece o funcionamento do equipamento e pode intervir se algo der errado. O professor da UFRGS conta que em comparação com as cirurgias normais, as cirurgias feitas com esse robô conseguem fazer procedimentos mais complexos de uma forma mais segura, diminuem o tempo de internação de cinco dias para um dia e minimizam de quatro a seis vezes as complicações cirúrgicas. “Isso acontece porque a cirurgia feita com robô não faz aquelas incisões gigantes e ainda permite que o cirurgião tenha mais liberdade para operar o paciente”, completa Leandro.
Em um futuro próximo a parceria entre os dois países deve evoluir ainda mais. “Existe um projeto para trazer médicos do Kuwait para o Brasil para treiná-los nesta área por um período que deve ir de dois a três meses. O objetivo é que eles acompanhem de 15 a 20 cirurgias. Para a gente, as grandes vantagens dessa parceria é o networking e as experiências que vivenciamos com outros tipos de cirurgias”, disse o professor da UFRGS.
Leandro Totti Cavazzola
Com décadas de experiência, Leandro se formou como médico e fez residência na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, se especializou em Cirurgia da Parede Digestiva, fez mestrado e doutorado em Cirurgia Geral e pós-doutorado em Cirurgia Minimamente Invasiva nos Estados Unidos. “Em 2008 conheci o robô Da Vinci enquanto fazia pós-doutorado. Fiz o meu primeiro treinamento no robô em 2012 e desde 2013 adquiri a habilitação para ser tutor, isto é, passei a poder ensinar outras pessoas a fazer cirurgias com robôs. Fui um dos primeiros a ter essa autorização do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e até hoje, entre procedimentos robóticos, monitorados e feitos, já foram mais de 800.”
Reportagem de Rebecca Vettore, em colaboração com a ANBA.