Conferência precisará solucionar desafio de pagar pelas medidas necessárias para conter o aquecimento global. Indústria brasileira defende regras no mercado de carbono e financiamento concreto e perene de projetos.
O financiamento das medidas necessárias para atingir as metas climáticas deverá se intensificar na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP29), que será realizada entre 11 e 22 de novembro em Baku, no Azerbaijão. No seminário “Pré-COP29: o papel da indústria na agenda do clima”, organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), nesta quinta-feira (3), em São Paulo, a instituição apresentou sua agenda para o evento e o papel da indústria na busca pelas emissões zero de gases causadores do efeito estufa. O evento teve apoio institucional da Câmara de Comércio Árabe Brasileira.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, defendeu o financiamento climático de forma concreta e sustentável; a criação de indicadores para medir os resultados dos programas de transição energética; e a implantação de regras claras no mercado de carbono. Afirmou que os resultados a serem obtidos na COP29 são fundamentais para que a COP30, que será realizada em Belém, no Pará, em 2025, entregue ao planeta resultados em favor do clima. “Precisamos ter consciência de que desiguais precisam ser tratados de formas desiguais”, disse, em referência ao fato de que países desenvolvidos e em desenvolvimento precisam ser vistos e financiados de acordo com a sua realidade.
Enviado especial do governo dos Estados Unidos para o clima, Rick Duke, participou do evento a partir dos Estados Unidos e disse que a COP29 oferece a oportunidade de avançar sobre as resoluções da COP28, que foi realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, em 2023, de zerar as emissões líquidas de carbono até 2050.
Tanto Duke como Alban afirmaram que há dinheiro disponível no mundo para financiar a transição energética, hoje estimada em quase US$ 6 trilhões. Duke, porém, afirmou que fundos de investimentos que detêm o capital para esses investimentos precisam que os governos comprovem comprometimento com suas metas, que os projetos sejam colocados em prática, que existam infraestrutura e regulamentações que garantam a transição energética.
O financiamento da transição energética é fundamental para que cada país alcance sua NDC (sigla em inglês para Contribuição Nacional Determinada). A meta atual do Brasil é zerar as emissões líquidas até 2050. Uma atualização da meta brasileira deverá ser apresentada antes da COP29.
Depois da COP29, a vez da COP30 em Belém, no Pará
Embaixador do Brasil no Azerbaijão, Manuel Montenegro afirmou que a COP29 será o maior evento já realizado no Azerbaijão, um país que depende da exploração de petróleo e que tem na Itália seu maior parceiro comercial, com exportações de petróleo e gás que somaram US$ 15 bilhões em 2023. Os derivados de petróleo, disse, ainda correspondem a 44% da pauta comercial do Azerbaijão, que, por sua vez, busca diversificar suas matrizes econômicas e está investindo em projetos sustentáveis.
No ano passado, disse Montenegro, o Azerbaijão importou US$ 200 milhões em produtos do Brasil, em um exemplo de que a relação comercial entre os dois países pode se intensificar nos próximos anos. “A troca comercial poderia crescer com o conhecimento mútuo”, disse, lembrando que os dois países, ao lado dos Emirados Árabes Unidos, integram a Troika. Este grupo foi formado no ano passado pelos três países para fortalecer a cooperação internacional para limitar o aquecimento global a 1,5ºC.
Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), Alex Carvalho afirmou que a COP é uma “oportunidade de se repensar o modelo de desenvolvimento” e comentou que muito do que se consome hoje no Brasil não é de origem local. São produtos importados que, muitas vezes, têm origem em locais que não são comprometidos com a preservação e chegam ao País em condições mais competitivas do que os produtos brasileiros ou do Pará, exemplificou.
Diretor de Relações Institucionais da CNI, Roberto Muniz apresentou os resultados da pesquisa “Opinião pública & sustentabilidade”, que mostra, entre outros dados, que 92% dos brasileiros se preocupam em economizar água, sete em cada dez brasileiros separam os resíduos recicláveis e 49% substituem o automóvel por meios de transportes não poluentes. Outros 24% estão dispostos a pagar um pouco mais caro por produtos sustentáveis.
Do evento, participaram também o chefe interino do Escritório de Representação do Itamaraty em São Paulo, Alfredo José Cavalcanti Jordão de Camargo, a gerente adjunta da Unidade de Inovação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Anne Tonet, o presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), Dyogo Oliveira, o secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Rodrigo Rollemberg, e o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP). O evento teve, no decorrer do dia, painéis sobre economia verde e transição energética na indústria.
Fonte: ANBA