O secretário-geral da Câmara Árabe, Tamer Mansour, assina artigo sobre as trocas comerciais do Brasil com os países da Liga Árabe
Foto: Rodrigo Rodrigues/ Câmara Árabe
Por Tamer Mansour*
As trocas comerciais entre o Brasil e a Liga Árabe chegam ao último quadrimestre do ano com sinais de que 2023 deve fechar com novo recorde na série histórica. Até agosto, as exportações brasileiras para os 22 países da entidade acumularam US$ 12,528 bilhões, avanço de 9,93% na comparação com o ano anterior, com proteínas animais, açúcar, minério de ferro e grãos na dianteira da pauta de exportações.
Na via inversa, as vendas árabes ao Brasil somaram US$ 6,931 bilhões, essencialmente combustíveis fósseis e fertilizantes, recuo 30,54%, número que traz perspectiva de superávit para o lado brasileiro talvez na casa de US$ 6 bilhões ou mais. A informação mais relevante que os dados trazem é que o comércio Brasil-Liga Árabe está voltando a seu perfil pré-pandêmico, com muito menos influência da covid-19 e do conflito Rússia-Ucrânia, a produzir nos últimos dois anos desorganização logística e nos custos de várias cadeias produtivas.
A dinâmica comercial Brasil-Liga Árabe está voltando a ter características pré-pandêmicas também nos preços, que, após um ciclo de alta nos valores absolutos e compressão nas margens, começaram em 2023 finalmente a apresentar deflação nos principais produtos, ainda longe, claro, de compensar a alta acumulada desde 2020. As proteínas animais, por exemplo, produto número um da pauta brasileira, no período considerado, tiveram preço médio US$ 2.387,88 por tonelada, recuo de 4,42%, indicativo de que os frigoríficos nacionais não têm encontrado dificuldades para atender pedidos no Brasil e no exterior, tampouco para efetivar negociações com clientes árabes.
O minério de ferro, terceiro produto da pauta, vendido em volumes muito expressivos, teve recuo de 15,81% no preço médio (US$ 98,38/ton), a reboque da menor demanda da construção civil chinesa, que ensaia uma recuperação tímida e de amplitude ainda incerta, esperando a definição das medidas anticíclicas a serem tomadas pelo governo central.
Da mesma forma, registraram deflação o complexo soja (-6,54%, US$ 550,50/ton) e os cereais (-1,03%, US$ 273,16/ton) demandados pela indústria de carnes do Golfo, que encontrou esses insumos a preços mais acessíveis no mercado internacional, a despeito da menor oferta decorrente da guerra russo-ucraniana. O único produto que teve avanço foi o açúcar, vendido no período a preços 21,01% mais caros no período (US$ 468,92/ton), a reboque da demanda por etanol no Brasil e pelos incentivos ao uso do biocombustível para descarbonização local.
Na via inversa, o petróleo árabe, mesmo com a Arábia Saudita cortando a produção, teve recuo de 11,11% no preço (US$ 712,65/ton). Nos fertilizantes, a queda chegou a 45,93% (US$ 395,27/ton), abrindo a possibilidade de custos mais competitivos para o agro.O recado dos números é que o comércio Brasil-Países Árabes está voltando a adquirir seus contornos tradicionais, em bases mais racionais e com boas condições de negociação para ambos os lados atingirem seus objetivos.
Além disso, os fundamentos econômicos das duas regiões seguem em perspectivas promissoras. A transição econômica árabe segue avançando, indicando que as condições de demanda, emprego e renda nesses mercados não devem se alterar significativamente.A recente aproximação entre os governos brasileiro e do Golfo deve, ainda, potencializar o ingresso de capital árabe no setor de infraestrutura, que registra níveis históricos de investimento ainda muito inferiores a países economicamente comparáveis ao Brasil.
Esses capitais também chegam com a perspectiva de serem investidos na economia verde brasileira, cada vez mais prioritária para os governos das duas regiões, em projetos de energia limpa, reflorestamento e crédito de carbono. ano de 2023 caminha, portanto, para um encerramento favorável, com recorde no comércio, superávit expressivo e, principalmente, aproximação dos agentes financeiros brasileiros e árabes para a viabilização de projetos bilaterais estratégicos.
Ao empresariado brasileiro, reforço que os países árabes seguirão relevantes em qualquer projeto de internacionalização, como mercados consumidores, ou base logístico-produtivas para bens de consumo. Assim, convido-os a considerarem oportunidades na região, pois temos a certeza de que parcerias mutuamente benéficas serão cada vez mais possíveis nesta relação bilateral.
*Tamer Mansour é CEO e secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira