Embaixador Wael Aboul Magd encerra missão com conquistas em vários setores
Integração ao BRICS, voo direto para o Cairo, comércio bilateral, abertura do Museu do Egito e mudança climática. Estes foram alguns temas abordados pelo embaixador egípcio no Brasil, Wael Aboul Magd, em entrevista exclusiva para a Agência the Embassy de Comunicação. O diplomata chefiou a missão durante quatro anos, período em que afirma ter cumprido seu propósito de deixar os dois país mais próximos.
Na visão do embaixador Magd o voo direto de Guarulhos para a capital egípcia é um grande ganho no turismo, na promoção de eventos e visitas de missões empresariais e políticas de ambos os lados. Vai, segundo o diplomata, levar os turistas a conhecerem o novo Grande Museu do Egito. O chefe de missão afirma que o comércio bilateral está crescendo, mas que é preciso haver um salto ainda maior. Para isso, a seu ver, “é preciso O Brasil tirar vantagem do Egito como ponto de entrada na África e o Egito vantagem do Brasil como ponto de entrada de toda a América do Sul.
Qual a importância de o Egito ter sido aceito no BRICS? O que o governo do seu país espera com essa decisão?
É muito importante, nós estamos agradecidos pelo convite para nos integrarmos, confiantes de que o Egito será beneficiado em se juntar ao grupo. Nós aprovamos o objetivo do BRICS de reunir nações em desenvolvimento, refletindo as novidades dos países do Sul Global em relação ao sistema econômico internacional. O Egito acredita na cooperação internacional, especialmente entre os países do Sul Global.
O Brasil ganhou uma rota direta entre Guarulhos e Cairo. Quais as vantagens dessa aproximação entre os dois países?
Eu não tenho como expressar como importante é ter um voo direto Brasil-Egito. Nós como embaixada no Brasil, como governo do Egito, depois de anos, tornando isto uma realidade. Egypth Air começará a disponibilizar voos diretos. Saudamos o fato de que há voos charter feitos por uma empresa privada mas o que é mais importante é haver voos regulares pela comanhia Egypt Air, o que esperamos que aconteça em algumas semanas. Isso vai beneficiar as relações em todas as dimensões, claro, aumentará o turismo nas relações interpessoais, mas também irá aprimorar as relações políticas através das visitas de alto nível, bem como as relações econômicas, negócios e investimentos.
Por causa disto o governo egípcio criou algum programa voltado para o turismo, realização de eventos, vindas de missões ao Brasil?
Sim, claro. Nós vimos conversando com as agências de turismo ao longo dos anos porque elas já trabalham para outras companhias aéreas. Mas, agora, para as elas, ficará mais barato e fácil para realizar seus negócios. Estamos conversando em São Paulo, no Rio de Janeiro, em outras cidades, com agências de viagem, procurando saber se elas já dispõem dessa informação. Elas serão nossas parceiras. Esse voo vai coincidir com vários eventos acontecendo no Egito, sendo que o mais importante é a abertura do novo museu egípcio. O Grande Museu do Egito-GEM já teve uma pré-abertura e já recebeu um grande número de visitantes somente na galeria principal, e as imagens disponíveis são impressionantes. Este museu, quando aberto, deverá ser o maior museu do mundo dedicado a uma única civilização, e é convenientemente localizado perto das pirâmides e das esfinges em Giza.
O senhor mencionou a inauguração do novo Museu do Egito. Haverá algum projeto cultural no próximo ano já planejado pela embaixada para trazer para o Brasil?
Claro, continuaremos a trazer artefatos egípcios e outros exemplos de arte e cultura egípcia que representam as várias camadas da história e da civilização egípcia, incluindo a antiga civilização egípcia “faraônica”, a greco-romana, a cóptica e a islâmica.
Há um fortalecimento das relações comerciais bilaterais. O escritório da Câmara de Comércio está trabalhando para apoiar o crescimento neste setor?
Sim, está. A Câmara de Comércio ÁrabeBrasileira em São Paulo é uma excelente parceira desta embaixada e ajuda a promover negócios em ambos os lados. Então, estamos trabalhando com eles em algumas ideias de realizar visitas de autoridades egípcias em 2024, vir uma grande delegação e acredito que a gente possa já pensar em missão brasileira lá. A Câmara de Comércio ÁrabeBrasileira tem um escritório agora no Cairo. Assim, serão repassadas informações de eventos e viagens.
Qual o balanço do comércio bilateral este ano?
Está crescendo, pelos anos anteriores é sempre por volta dos 2,5 a 3 bilhões de dólares. Está crescendo, principalmente do lado egípcio, a exportação para o Brasil tem aumentado um pouco. Importamos do Brasil vários itens principalmente açúcar, carne e frango. Nós exportamos para o Brasil vários produtos, principalmente fertilizantes. E, claro, tem também frutas, verduras entre outros produtos. Então do lado brasileiro maior é de fertilizante e do nosso, açúcar, carne e frango. Certamente podemos ampliar esse comércio bilateral, mas nossa meta não é só comércio. Temos de levar as nossas relações econômicas para o próximo nível, através do aumento dos investimentos mútuos e das joint ventures e do intercâmbio de conhecimentos que acrescentam valor e criam novos empregos em ambos os lados. E também devemos utilizar melhor o acordo de livre comércio entre o Egito e o Mercosul e aproveitar-nos, mutuamente, para alcançarmos mercados mais vastos. Assim, o Egito pode se tornar um ponto de entrada do Brasil na África e no Oriente Médio, e o Brasil um ponto de entrada do Egito na América Latina.
Recentemente comemoramos a Independência do Brasil. Como o governo egípcio vê o país, como considera o Brasil no contexto mundial?
Somos orgulhos da relação histórica com o Brasil. Temos um grande respeito pela história e pela construção de relações bilaterais. Brasil e Egito dividem histórias, um grande comprometimento no respeito as respectivas leis internacionais, não são só palavras. Nós trabalhamos nas Nações Unidas para defender e respeitar o direito internacional e os princípios das Nações Unidas. Então estamos orgulhosos do brasil por ocasião do 7 de setembro, também significantemente que em 2024 celebraremos os 100 anos de relações diplomáticas com o Brasil; iniciada em 1924. Então somos amigos, compartilhamos dos mesmos valores, por isso, estamos felizes em trabalhar com o Brasil, as Nações Unidas e o BRICS no próximo ano e continuar com esse bom relacionamento. Prosperidade, estabilidade e tudo que compartilhamos.
O senhor tem algo a mais que gostaria de mencionar?
Sim. Um dos nossos desafios mundiais é a mudança climática que afeta toda a humanidade. Não tem exceção, todos seremos afetados. Todos têm a mesma visão em relação a esse tema. Desde o ano passado, o Egito está na presidência da COP (Conferência do clima da ONU). A COP não é um evento é um processo, Isso significa que, a cada COP, fazemos o melhor que podemos para enfrentar o desafio da mudança climática e, no ano seguinte, construímos outro. O Egito continuará a desempenhar seu papel, mesmo após o fim de nossa presidência, inclusive, é claro, fornecendo todo o apoio para o sucesso da COP 30 em Belém. Infelizmente, os países desenvolvidos e em desenvolvimento, que são os que mais sofrem com as mudanças climáticas, foram os que menos contribuíram para o problema. Os países desenvolvidos são responsáveis pela esmagadora maioria das emissões nos últimos 200 anos. Portanto, devemos diferenciar entre as responsabilidades daqueles que causaram o problema e as vítimas que mais sofrem com o problema.