Segundo o embaixador da UE Ignacio Ybáñez eleição de Lula e guerra na Ucrânia aceleraram a necessidade de um acordo
O embaixador da União Europeia (UE) no Brasil, o espanhol Ignacio Ybáñez, afirmou que o acordo comercial entre o bloco e os países do Mercosul, que vem sendo discutido há 20 anos, poderá ser anunciado em julho, quando será realizada a cúpula UE-Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos). “Temos a ambição de que, em julho, quando ocorre a cúpula UE- Celac, possamos fazer o anúncio de que o acordo está finalizado”, disse o embaixador Ignacio Ybáñez
O prazo dado pelo diplomata coincide com a movimentação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para que o acerto seja celebrado até o final do primeiro semestre. “O acordo sempre foi necessário, e, na situação internacional atual, com a agressão da Rússia à Ucrânia e a convicção de que temos de buscar parceiros confiáveis, este é o momento certo para fazer avançar”, disse Ybáñez.
“A chegada de Lula que, ainda como presidente eleito, foi à COP27, sinalizou que as preocupações que tínhamos podiam ser deixadas de lado. Isso nos anima. Já apresentamos ao Mercosul os elementos centrais desse instrumento adicional, que está sendo discutido. Temos a ambição de que, em julho, quando ocorre a cúpula UE-Celac, possamos fazer o anúncio de que o acordo está finalizado”, ressaltou o diplomata.
Guerra de Ucrânia acelera necessidade do acordo UE-Mercosul, diz embaixador
O prazo estipulado pelo governo Lula 3 para tirar o acordo entre Mercosul e União Europeia (UE) do papel –até metade do ano– pode parecer ambicioso para uma negociação que se arrasta há mais 20 anos. O embaixador do bloco no Brasil afirma, porém, que a própria UE vê uma conclusão como urgente.
Um dos motivos, indica Ignacio Ybáñez em entrevista à Folha, é o cenário criado pela Guerra da Ucrânia, que catalisou a necessidade europeia de buscar novos parceiros confiáveis –trocando em miúdos, fugir da dependência de países como a Rússia.
O espanhol diz que a área energética –em especial o hidrogênio verde– é uma das que provoca maior interesse do bloco no Brasil, e afirma crer que o país e seus produtos estão prontos para atender às demandas europeias por cadeias de suprimento sustentáveis.
Ainda sobre o conflito no Leste Europeu, discorda que países do Sul Global tendam à neutralidade. Mas reconhece as cobranças de países da região. “O chamado a ser coerente no âmbito internacional é sempre válido. O que ele não pode nunca é ser usado como desculpa.”
Folha – O governo Lula 3 colocou o acordo entre a UE e o Mercosul como prioridade na agenda externa. Chegou a propor um prazo até a metade deste ano. Mas países como a Argentina já manifestaram incômodo com alguns meandros. Pode-se falar em algum prazo?
Ignacio Ybáñez – O acordo sempre foi necessário, e, na situação internacional atual, com a agressão da Rússia à Ucrânia e a convicção de que temos de buscar parceiros confiáveis, este é o momento certo para fazer avançá-lo.
Compartilhamos com o Mercosul valores de democracia, direitos humanos e economia de mercado. O ponto principal que não conseguimos avançar em 2019 era a agenda ambiental. Acordamos então um instrumento adicional para assegurar que todas as partes cumpririam o Acordo de Paris.
A chegada de Lula que, ainda como presidente eleito, foi à COP27, sinalizou que as preocupações que tínhamos podiam ser deixadas de lado. Isso nos anima. Já apresentamos ao Mercosul os elementos centrais desse instrumento adicional, que está sendo discutido. Temos a ambição de que, em julho, quando ocorre a cúpula UE-Celac, possamos fazer o anúncio de que oacordo está finalizado.
Folha – Acha que o Brasil está preparado para lidar com os requisitos ambientais de países do bloco para permitir que exportações entrem em suas fronteiras?
Ignacio Ybáñez – A legislação que a UE vem adotando é fruto da convicção da opinião pública e das instituições de que não podemos criticar o desmatamento, seja no Brasil ou em outros países, e ao mesmo tempo contribuir indiretamente com isso.
Se um produto que foi resultado do desmatamento chega livremente ao mercado europeu, essa atividade está sendo favorecida. A legislação não tem que ser vista como protecionista. Visa contribuir com a responsabilidade comum que temos de reduzir o desmatamento.
O Brasil tem instrumentos suficientes para se preparar para essa situação. Há programas, como os de selo verde, para rastreabilidade do produto. Isso faz a distinção da grande maioria dos produtores, que cumprem a legislação ambiental, daquela minoria que não cumpre a lei.
Folha – A crise dos yanomamis mostrou que há áreas onde nem sequer o governo tem controle. Como avalia a resposta do governo Lula?
Ignacio Ybáñez – Sempre manifestamos nossas preocupações respeitando a soberania brasileira. Mas o exercício pleno da soberania se cumpre quando o Estado pode fazer cumprir a legislação em todo o seu território.
O que ocorre no território yanomami é uma boa demonstração disso. Estamos cientes de que a situação não muda de um dia para o outro, de que resultados radicais não são imediatos, mas o importante é que a mensagem do presidente Lula e seu governo é de que a ilegalidade não pode ser respeitada.
Fonte: Folha de São Paulo