Yang Wanming
Comemora-se, neste ano, o 40o aniversário da Zona Econômica Especial de Shenzhen, a primeira janela da abertura chinesa ao exterior. A história de Shenzhen é um milagre do povo chinês na história do desenvolvimento mundial, como afirmou recentemente o presidente Xi Jinping, pois em quatro décadas a cidade deixou de ser um atrasado vilarejo fronteiriço para se transformar numa metrópole de projeção internacional.
A Zona Especial de Shenzhen tem sido a vanguarda à frente do aumento substancial da produtividade. Nesses 40 anos, o PIB da cidade cresceu mais de dez mil vezes, de 270 milhões de yuans em 1980 para 2,7 trilhões dólares em 2019, com uma média de crescimento de 20,7% ao ano. Hoje a economia de Shenzhen está em quinto lugar no ranking das cidades asiáticas. Em 2019, a renda disponível per capita era de 62.500 yuans, 31,6 vezes maior que a de 1985. Houve melhoras significativas em indicadores de qualidade de vida como educação, saúde e moradia. A cidade foi uma das primeiras na China a alcançar a meta de sociedade moderadamente próspera em todos os aspectos, dando um salto histórico ao deixar para trás a mera preocupação com a subsistência para abraçar uma vida mais abastada.
A Zona Especial de Shenzhen é uma área piloto para o contínuo aprofundamento da reforma. Quarenta anos atrás, Shenzhen foi das primeiras a adotar um sistema econômico voltado para o mercado, lançando, de forma pioneira, mais de mil iniciativas de reforma. Hoje a cidade é um exemplo para o país inteiro no aprofundamento abrangente das reformas. Ao apoiar essas iniciativas, o governo central deu mais autonomia à cidade para efetuar reformas em campos prioritários e elos importantes por meio de uma lista de autorizações. Pode realizar testes e experimentos em áreas-chave como o aperfeiçoamento da alocação de fatores orientada pelo mercado, o desenvolvimento integrado entre a cadeia de inovação e as indústrias, a melhoria do ambiente de negócios e a gestão do meio ambiente e do espaço urbano. As experiências extraídas serão replicadas em outros lugares.
A Zona Especial de Shenzhen está na dianteira da acelerada abertura chinesa ao exterior. Valendo-se dos mercados mundial e doméstico, o comércio internacional de Shenzhen saltou de US$ 18 milhões em 1980 para US$ 431,5 bilhões em 2019, com um crescimento anual de 26,1%. Hoje, Shenzhen também se destaca, na China e até no mundo, por sua capacidade tecnológica: a cidade tem 8,51 empresas de alta tecnologia em cada quilômetro quadrado e estão instaladas ali cerca de dois terços das 500 maiores empresas do globo. Com isso, a cidade conseguiu diversificar com sucesso a sua economia, que era voltada ao comércio exterior com uma abertura de alta qualidade em todas as frentes.
O que a Zona Econômica Especial de Shenzhen conseguiu é um retrato da reforma e abertura em toda a China. Atualmente, a globalização econômica sofre um retrocesso, o protecionismo e o unilateralismo estão ganhando força e a economia mundial apresenta sinais de estagnação. Por outro lado, ao priorizar qualidade, em vez de velocidade, a economia chinesa encontra-se em um período crítico, em que precisa transformar seu modo de crescimento, otimizar a estrutura econômica e mudar suas forças motrizes. Diante dos desafios internos e externos, o presidente Xi Jinping apontou que a China não se deixará intimidar por ventos adversos, e deve permanecer do lado certo da história, expandindo inabalavelmente sua abertura de forma abrangente, estimulando a construção de uma economia mundial aberta e promovendo a criação de uma comunidade de futuro compartilhado.
Em alguns dias, o governo chinês vai lançar o 14o Plano Quinquenal para o Desenvolvimento Socioeconômico Nacional. Esse plano terá como ponto principal um novo paradigma de desenvolvimento, em que a circulação doméstica será o esteio, e as circulações doméstica e internacional se reforçarão mutuamente. Neste novo ponto de partida, a China vai acelerar os passos da reforma e abertura, e inaugurar um novo patamar de abertura econômica, com tarifas aduaneiras mais baixas, listas negativas mais curtas, acesso mais facilitado ao mercado com regras mais transparentes e um ambiente de negócios mais atrativo. Tudo isso trará novas oportunidades para o Brasil e os demais países.
Yang Wanming é embaixador da China no Brasil