Degustação promovida pela embaixada mostra novas produções que ganham destaque internacional
Por Rachel Alves Nariyoshi
A convite do Senhor Vusi Mavimbela, embaixador da República da África do Sul no Brasil, participei de degustação de vinhos sul africanos, numa ação coordenada pela Conselheira Econômica no Brasil, Senhora Cecília Iturralde. Lá encontrei muitos apreciadores de vinhos, inclusive os produtores da Vinícola Brasília Renata Marchese, Rodrigo Sucena e Ronaldo Triacca. Salve! Agregando valor ao evento, a Sommelière Etiene Carvalho contou-nos de suas experiências em terras sul africanas e o Sommelier Francisco Chaves fez o serviço dos vinhos.
Na África do Sul o vinho data do Século XVII. Diz a história, que o primeiro registro de vinho produzido naquele país foi em 1659, elaborado por colonizadores holandeses e, anos depois, essa atividade foi aprimorada pelos imigrantes franceses que já dominavam as técnicas do manuseio das parreiras e da elaboração dos vinhos.
A África do Sul está entre as 10 maiores regiões produtoras de vinhos do mundo, conhecidas pela qualidade e diversidade. Com mais de quatro mil produtores que se valem do clima influenciado pelos oceanos Atlântico e Índico, bem como pelo clima temperado e pela Corrente de Benguela, uma frente fria que refresca a costa sul africana.
Visando manter a qualidade e regular a produção de vinhos, o governo sul africano criou uma legislação vinícola admirável, como por exemplo o selo “Wines of Origin System” (WO). Esse selo registra a origem e as respectivas áreas de produção do vinho selado. A expressão “making better wine, making wine better” (fazendo os melhores vinhos, tornando vinhos melhores) define como está a produção do vinho hoje na África do Sul.
Vinhos de excelente qualidade que atrai, também, o enoturismo. A Cape Route 62, também conhecida como a Rota do Vinho, atravessa todo o país. Vai da Cidade do Cabo em direção a Port Elizabeth. Nesse trajeto oferece diversas atividades como caminhadas, cavalgadas, mountain biking, trilhas para 4×4 e vai serpenteando o Vale do Rio Breede e a região do Pequeno Karoo, cruzando as principais regiões vinícolas da África do Sul com paisagens magníficas. Dizem os enoturistas que a Cap Route 62 é a maior e mais longa rota de vinícolas do mundo.
Na embaixada da República da África do Sul no Brasil degustamos quatro vinhos, dois tintos e dois espumantes, importados pela Porto a Porto. Os dois vinhos espumantes degustados foram elaborados pelo citado Método Cap Classique na Vinícola Genevieve. Sua produtora Melissa Genevieve Nelsen os apresentou.
O vinho espumante Brut Rosè Genevieve, elaborado 100% da variedade tinta Syrah, proveniente de vinhedo com 16 anos em Bokkeveld Shale, com 12,5% de álcool. Suas uvas foram colhidas manualmente com 19º de Brix (mede o açúcar da uva).
Notas da prova dessa Sommelier que vos escreve: Elegante, com acidez natural, coloração rosado atrativo, com aromas de cerejas bem maduras, apresentando sutil e delicado floral. Na boca revela sabor de morangos e no fundo da boca, uma apaixonante revelação de pêssegos maduros, com final persistente, sedoso e aquele “desce redondo”. Simplesmente elegante!
Melissa Genevieve comentou que “O espumante Rosé ampliou minha abordagem ao que se quer do método Cap Classique. Minha regra é ter equilíbrio suficiente em acidez, sabor e mousse fina em seu primeiro gole para não dominar quaisquer sensações gustativas.”
O outro vinho espumante Brut Blanc de Blanc Genevieve, tem a revelação de Melissa Genevieve que diz, “Um sonho de um, o trabalho de muitos.”. Vinho elaborado da variedade branca Chardonnay da região Passo Van der Stel. Ficou muitos anos em contato com as leveduras na garrafa, em ambiente com temperatura controlada, permitindo aportar complexidade como sabores marcantes e aromas bem perceptíveis.
Notas da avaliação sensorial dessa Sommelier: “Blanc de Blanc” é o vinho espumante elaborado a partir da variedade branca Chardonnay. Apresenta aromas leves e delicados de fruta fresca com grande cremosidade no paladar, corpo leve, com acidez alta e delicados aromas cítricos. Na boca lembrou um saboroso sorvete de creme. Aliás, cremoso em boca e pede sempre mais um gole após a salivação.
Aproveito para falar do método de elaboração do vinho espumante na África do Sul que se chama “MMC Méthode Cap Classique”. Vem sempre estampado nos rótulos, considerando que é um ponto relevante para a identificação dos bons vinhos espumantes que são comparados ao Champagne. Esse termo surgiu a partir de uma associação criada por produtores de vinhos espumantes premium no país e foi inspirado no Método Tradicional francês de elaborar Champagnes, com a segunda fermentação dentro da garrafa.
Enfim, os vinhos espumantes da África do Sul estão conquistando posição no mercado internacional. E acrescento ainda, vinhos com acidez vibrante e aromas bem frutados, lembrando os clássicos brasileiros.
O vinho Nederburg Pinotage, safra 2021, da vinícola Nederburg, elaborado 100% da variedade Pinotage, com 13% de álcool estagiou em barricas de madeira por 12 meses. A Pinotage é a variedade emblemática da África do Sul, criada a partir do cruzamento das variedades Pinot Noir com Hermitage, pelo Professor Abraham Izak Perold (1880-1941) da Universidade de Stellenbosch, cujo objetivo era criar uma variedade que se adaptasse ao terroir sul africano. E conseguiu!
Notas da avaliação sensorial dessa Sommelier: Coloração rubi magnífico brilhante, com aromas de ameixas bem maduras e um leve tostado. Na boca, apresenta corpo médio, taninos domados com final persistente permanecendo por uns 20 segundos. Ah, deixa um leve dulçor no centro da língua.
A vinícola Nederburg é a maior ganhadora de prêmios e a maior em volume dentro da África do Sul. Foi fundada em 1791 pelo Phillipus Wolvaart. Em 1937, Johann Graue elevou a vinícola ao estado extraordinário que está hoje em qualidade de volume de produção de vinhos.
Vinho Bobbejaan, safra 2021, da vinícola Babylon’s Peak, foi o segundo vinho tinto degustado no evento. Elaborado a partir do corte das variedades Shiraz, Mouvedre e Viognier, com 14% de álcool e passagem de barricas de carvalho americano por 6 meses.
Os vinhos da Vinícola Babylon’s Peak (fundada em 1919) são elaborados na região de Swartland, próximo da montanha de Paardeberg. Tem os vinhedos mais altos da região, com cerca de 700 metros acima do nível do mar. O nome Bobbejaan significa balbuíno, assim o vinho é uma homenagem a este animal da fauna sul-africana que está estampado no rótulo. Dizem também que esse vinho é considerado “vinho de celebridade”, muito apreciado pelo cantor sul africano Bobby Van Jaarsveld.
Notas da avaliação sensorial dessa Sommelier: As três variedades “se deram bem” nesse corte, onde uma complementa a outra, tornando um vinho fácil de beber e harmonioso. De coloração rubi brilhante, apresenta aromas delicados e sutis de cereja madura, de coco fresco e um toque de baunilha. Na boca, é frutado, com taninos equilibrados, é fresco, de corpo leve e com estrutura sutil. Eu o harmonizei com a bobotie (almôndega), prato típico sul africano, que fora servido lá no evento e ficou perfeito na boca.
Excelentes vinhos mostrando toda a personalidade do novo mundo e a qualidade da produção sul africana. No geral, os vinhos tintos se destacam pelo nível alto de teor alcoólico, enquanto os vinhos brancos apresentam características mais leves, típicas de país do novo mundo.
Essa colunista agradece aos organizadores a oportunidade de, na intimidade da residência oficial do Senhor Embaixador Vusi Mavimbela, conhecer excelentes vinhos sul africanos.
@rachelalves.professoravinhos
Professora, Sommelière e Juíza Internacional de Qualificação de vinhos.