Paruyr Hovhannisyan participou de consultas políticas. Em entrevista exclusiva à Embassy, antes de suas consultas, o vice-ministro falou da aproximação com a União Europeia, da relação com o Brasil e do conflito com o Azerbaijão.
No dia 19 de fevereiro, as consultas foram presididas pelo vice-chanceler Paruyr Hovhannisyan, do lado armênio, e pela secretária-geral do Ministério das Relações Exteriores, Maria Laura da Rocha, do lado brasileiro.
No encontro, foi ressaltada a prontidão para intensificar o diálogo político Armênia-Brasil, finalizar os acordos em consideração e desenvolver ainda mais os laços econômico-comerciais e interparlamentares.
No contexto de assuntos relativos a transportes regionais e projetos econômicos, o vice-ministro apresentou o projeto Encruzilhada da Paz, desenvolvido pelo governo armênio. Trata-se de um empreendimento monumental projetado para estabelecer conexões entre o Golfo Pérsico, o Golfo de Omã, o Mar Negro, o Mar Cáspio e o Mar Mediterrâneo por meio de uma rede ferroviária regional consolidada e pelas estradas Norte-Sul e Leste-Oeste.
Temas como o Acordo de Parceria Global e Reforçada (CEPA), as relações com a União Europeia e a situação de segurança no Sul do Cáucaso e as medidas destinadas à normalização das relações Armênia-Azerbaijão também foram comentados durante entrevista à Embassy, na sede da embaixada da Armênia, em Brasília. Leia a seguir a integrada da conversa.
1 -A União Europeia está empenhada em apoiar a Armênia. Qual a importância de todas as informações veiculadas em texto divulgado pela entidade? Foi anunciado um adicional de 5,5 milhões de euros em ajuda humanitária aos arménios deslocados do Karabakh. Como está a situação deles lá agora?
Tem razão quanto a União Europeia ser o nosso principal doador; também recebemos a assistência significativa dos EUA e de outros parceiros. Com efeito, o apoio à Armênia, manifestado durante o recente Conselho de Parceria, de 13 de fevereiro, foi mais uma prova das nossas relações cada vez mais estreitas e do nosso desejo de melhorar as relações que temos com a UE.
No que diz respeito às consequências humanitárias do êxodo de arménios do Nagorno-Karabakh, a situação continua a ser complicada. A Armênia consegue receber apenas em poucos dias mais de cem mil refugiados deslocados à força. Isso seria um fardo pesado para qualquer país. No entanto, a ajuda de vários parceiros foi fundamental para ajudar.
A situação, como mencionei, precisa de atenção. Os refugiados necessitam de assistência em matéria de habitação, de emprego, de uma série de outras questões, que lhes permitam continuar com condições de vida normais., pelo que esperamos em estreita colaboração com a UE, os EUA e outros parceiros, para continuar a resolver esta situação, mas, imaginem, desses mais de cem refugiados, nenhum ficou numa tenda, nem um único foi deixado na rua, nenhum passou fome, o governo tomou–com todos os nossos recursos limitados–quaisquer medidas e contribuições que foram necessárias para que essas pessoas suprissem suas necessidades básicas. É claro que ainda temos muito trabalho pela frente.
2 – Na sua opinião, qual é o potencial do Acordo de Parceria Compreensiva e Reforçada (CEPA)?
O acordo CEPA, com a União Europeia é, de fato, um acordo de associação-lite com a UE. Estamos negociando um acordo de associação há anos, depois, devido à difícil situação geopolítica, fomos forçados a iniciar uma nova negociação e chegamos a este acordo CEPA que contém muitas disposições que, se implementadas, estamos prontos para ser um país candidato a aderir à UE. Elas nos permitiriam trazer as normas europeias, aprofundar a parceria com a UE a um nível máximo elevado.
E nas reuniões recentes a que nos referimos anteriormente, discutiu-se que a UE nos ajudaria a avançar com uma implementação ainda mais eficaz desse acordo em benefício do nosso povo. Contém muita cooperação setorial, em todos os setores como energia, transportes, meio ambiente, educação; há um grande capítulo sobre direitos humanos, sobre reformas jurídicas, uma maior cooperação política e assim por diante.
3 – E quanto ao diálogo sobre a liberalização de vistos com a UE com a Armênia, que sustenta e intensifica os seus esforços?
Essa é uma área em que ainda precisamos ter uma cooperação mais forte, a situação com a facilitação de vistos não é perfeita, temos longas filas para conseguir vistos em países membros da UE. Mesmo assim, supõe-se que haja tratamento preferencial para diferentes categorias, business, esportista, representantes acadêmicos, e assim por diante. Desta forma, paralelamente, temos de iniciar a discussão, as negociações sobre a liberalização dos vistos. Acho que fizemos muitas reformas, que nos aproximariam da Europa, da União Europeia, que aumentariam o contato entre as pessoas, que estimulariam ainda mais o desenvolvimento do turismo , dos negócios e assim por diante . Por conseguinte, é evidente que a liberalização dos vistos é um dos instrumentos mais atrativos que a UE nos poderia proporcionar. Estivemos próximos de Bruxelas, com todos os Estados-Membros. Estou certo de que, num futuro próximo, iniciaremos negociações sobre a liberalização dos vistos e isso beneficiaria a nossa parceria com a UE.
4 – Quais são os projetos que a Armênia considera prioritários com a União Europeia?
A União Europeia é o nosso principal parceiro para a transformação, a democratização do país, para a boa gestão, para as reformas. A UE sempre foi, desde a nossa independência, uma apoiadora da Armênia de todos os meios, continuando a ser o nosso principal parceiro para estas reformas. Mas, recentemente, houve um projeto adicional que é a segurança na nossa região. Desde que a Armênia foi atacada pelo Azerbaijão em 2023, a UE empregou a sua missão de observação nas fronteiras entre a Armênia e o Azerbaijão. Recentemente essa missão foi ampliada em pessoal. A missão executa tarefas muito importantes. Ela contribui para a minimização de diferentes incidentes na fronteira, fornece informações importantes à UE e aos seus Estados-Membros sobre a situação no terreno; também ajuda a população local a se sentir mais segura.
A bandeira da UE, todos os dias, é vista em todas estas regiões fronteiriças que estão em risco de novas escaladas, e os armênios se sentem muito seguros com a bandeira europeia lá. Trata-se, portanto, de uma nova direção da nossa parceria com a UE segurança e reforço do apoio político. De resto, a União Europeia também está mediando para a Armênia e o Azerbaijão alcançarem a paz. O presidente do Conselho Europeu dedicou muito tempo a estes esforços, alguns Estados-membros também, como a Alemanha, a França e nós esperamos continuar a trabalhar em estreita colaboração com a UE também nesse sentido.
5- O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, foi recentemente reeleito. Haverá algumas mudanças neste novo governo?
Vemos muitas críticas sobre esta eleição por parte da principal equipe internacional, de observação, que é o ODIHR [Gabinete para as Instituições Democráticas e os Direitos Humanos], o mecanismo de observação eleitoral da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). Claro que não cabe a mim comentar as eleições no nosso país vizinho, no entanto, nossa expectativa é que, após as eleições, o presidente Aliyev volte à mesa de negociações, que mantenha os acordos que foram alcançados no período anterior, há cerca de dois anos. Isso nos permitiria finalmente iniciar o estabelecimento da paz na nossa região, que é extremamente necessária.
6 – Qual a sua expectativa em relação a essa missão no Brasil?
A principal razão é que Brasil é um importante player global, é um país importante para nós. Temos uma das mais ativas comunidades armênias que fica em São Paulo. O Brasil foi o primeiro país da América Latina a abrir sua embaixada residente na Armênia. Nos tempos turbulentos atuais, tentamos diversificar nossas políticas, tentamos diversificar nossa resiliência, criar laços econômicos, culturais, políticos. O Brasil é um dos parceiros mais importantes com quem temos relações muito amigas e o motivo dessa visita, é ver, explorar quais são as oportunidades de aprofundar ao máximo possível essa amizade e, claro, também terei reuniões com a comunidade armênia e tentarei explorar seu belo país também.
Algum setor em especial?
Discutiremos temas em todas as áreas, é um diálogo político, já que é chancelarias, claro, isso será a direção número um, mas também estamos explorando as oportunidades de fortalecer a cooperação no campo econômico, na educação, na cultura, na cooperação em diferentes organizações internacionais e assim por diante.