Raquel Pires (Com informações da Folha de S. Paulo, G1 e Notícias ao Minuto)
Desde que assumiu a presidência, Jair Bolsonaro já realizou duas viagens oficiais ao exterior à Argentina e ao Estados Unidos. Foi no último sábado (30), que ele desembarcou para a sua terceira viagem, para Israel, onde se reuniu com o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu. Como era esperado, uma série de compromissos em Tel Aviv e Jerusalém, vem sendo realizados, duas cidades que estão no centro da polêmica envolvendo a mudança da embaixada brasileira.
Logo após vencer a eleição, em novembro do ano passado, Bolsonaro prometeu transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, a exemplo dos Estados Unidos. Dessa forma, o Brasil reconheceria Jerusalém como capital de Israel. No entanto, até o momento, a mudança ainda não foi realizada.
Para Israel, Jerusalém é a “capital eterna e indivisível” do país. Já os palestinos reivindicam Jerusalém Oriental como capital de um futuro Estado palestino. A comunidade internacional não reconhece a reivindicação israelense de Jerusalém como sua capital indivisível.
Após meses de repercussão da declaração de Bolsonaro, o governo brasileiro havia sido mais cuidadoso ao abordar o tema. Entretanto, a viagem à Israel mudou os rumos. No domingo (31), Bolsonaro ofereceu a abertura de um escritório comercial em Jerusalém, em vez da transferência da embaixada brasileira de sua atual sede, em Tel Aviv.
Bolsonaro anunciou a abertura do escritório, em Jerusalém, “para promoção do comércio, investimentos e intercâmbio em inovação e tecnologia”. A ação foi vista como intermediária, tendo em vista não afastar os países árabes, importantes importadores da carne brasileira.
Mesmo assim, Bolsonaro não conseguiu se esquivar da reação dos palestinos, pois a Autoridade Palestina convocou seu embaixador no Brasil, Ibrahim Alzeben, para consultas. A diplomacia palestina classificou a medida do Planalto como “uma agressão direta”. Condenando a atitude brasileira, o Ministério das Relações Exteriores considerou a decisão “uma violação descarada da legitimidade e das resoluções internacionais”.
O comunicado ainda reafirma que a Palestina considera Jerusalém como parte de seu território. Segundo o jornal The Jerusalem Post, a Autoridade Palestina irá debater com outros países uma resposta unificada para a decisão brasileira.
A proposta de mudar o local da embaixada, porém, contraria a tradição diplomática brasileira de seguir a orientação das Nações Unidas e esperar uma resolução do conflito entre israelenses e palestinos para definir o status de Jerusalém, que ambos os povos clamam como sua capital.
MURO DAS LAMENTAÇÕES – Ao visitar o Muro das Lamentações nesta segunda-feira (01) —local sagrado tanto para o judaísmo e para o cristianismo—, Bolsonaro amenizou a reação palestina: “É direito deles reclamar”, afirmou. “A gente não quer ofender ninguém, agora queremos que respeitem a nossa autonomia”, disse Bolsonaro a repórteres ao deixar o hotel para visitar a Igreja do Santo Sepulcro e o Muro das Lamentações.
Após uma breve oração ao lado de Netanyahu no Muro, Bolsonaro depositou um pedido. Questionado por jornalistas sobre o que havia sido, ele respondeu: “Deus, olhe pelo Brasil”. No mesmo dia, o presidente também esteve presente na cerimônia de condecoração dos militares israelenses que ajudaram no resgate de vítimas da tragédia em Brumadinho.
A agenda presidencial começou com uma visita à unidade de contraterrorismo da polícia israelense. Em seguida, Bolsonaro seguiu para a homenagem aos integrantes do Exército de Israel que estiveram no Brasil. Nela, os militares foram condecorados com a insígnia da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a mais alta condecoração brasileira atribuída a cidadãos estrangeiros.
Junto com Bolsonaro viajam os ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Bento Albuquerque (Minas e Energia), Marcos Pontes (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).
Os senadores Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), Chico Rodrigues (DEM-RR) e Soraya Thronicke (PSL-MS) e a deputada Bia Kicis (PSL-DF) também integram a comitiva. A volta está agendada para quarta-feira (03).