[:pb]Por: Adriana Medronho
Detentora das maiores reservas de petróleo do mundo, a Venezuela sofre com uma espiral inflacionária que atingirá 720%, retraindo a economia em 8% ainda neste ano, segundo relatório do FMI. A crise humanitária é suficientemente grave para suplantar tradicionais embates ideológicos, levando às ruas manifestantes antigoverno, cujos atos, marcados pelo escalonamento da violência, foram respondidos com controverso decreto governamental de “estado de exceção”. A população enfrenta escassez de produtos básicos, crises elétrica, sanitária e hidráulica, além dos altos índices de violência.
Afetado pela queda dos preços do petróleo, o governo busca diversificar fontes de renda, captando investimentos de transnacionais para a exploração aurífera, de modo a reverter o quadro de crise e mitigar guerras recrudescidas entre facções nas regiões garimpeiras. A instabilidade político-institucional foi exacerbada no último dezembro, com o êxito eleitoral da coalizão de oposição, Mesa de Unidade Democrática (MUD), que conquistou maioria na Assembleia Nacional (AN). A MUD trava, desde então, amplo embate político com vistas à destituição de Nicolás Maduro e, frente à proposta de referendo revogatório apresentada este ano, o governo propõe duras soluções.
A presidência da AN acusa o Executivo de querer anular o Parlamento para que o referendo não seja aprovado. A oposição quer celeridade no andamento do processo, mas a proposta de lei para tal foi entendida como inconstitucional pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Analistas e políticos do setor moderado entendem que a oposição ao governo não deve deixar de se ater aos prazos constitucionais em relação aos trâmites do referendo. Por outro lado, aponta-se que o governo e a AN travam uma competição díspar, dado que o primeiro conta com o Tribunal Supremo de Justiça, o CNE, a PDVSA (estatal petroleira) e as Forças Armadas em sua base política. Não obstante o crescente apoio popular – sobretudo frente às múltiplas crises –, o entrave institucional, aliado à falta de previsão legal clara sobre o tema, compõe um cenário adverso ao êxito da oposição. O comportamento das Forças Armadas parece que será o fiel da balança, não devendo ser descartada a possibilidade do surgimento de lideranças militares contrárias ao atual governo.
Foto: Elpaiscom. As longas filas para compra de alimentos
Fonte: Boletim Geocorrentes[:]