Mas, acima de tudo, usou seu discurso para vender uma imagem do sucesso do país no abastecimento global e tentar se firmar diante de uma intensa disputa com a China pela hegemonia regional. “A Índia está salvando a vida de pessoas em outros países”, declarou. Ele ainda completou: “estamos salvando a humanidade de uma tragédia”. O evento tradicionalmente ocorre em Davos a cada ano. Mas, em 2021, a conferência está sendo realizada virtualmente.
Modi deixou claro que, por enquanto, apenas duas vacinas estão sendo fabricadas em seu país. Mas o volume de distribuição irá aumentar com a chegada de novos imunizantes. “Teremos outras vacinas chegando”, prometeu. “O mundo vai ficar aliviado em saber que, proximamente, mais vacinas virão da Índia”, disse. “Isso vai ajudar no auxílio a outros países”, prometeu. A promessa da Índia por mais vacinas ocorre no momento em que a Europa trava uma verdadeira guerra com a AstraZeneca e outros países diante do abastecimento limitado de doses. O governo da Bélgica, por exemplo, mandou investigadores para as fábricas da empresa para tentar saber quais serão os destinos das doses.
A exportação inicial de vacinas e insumos da China tampouco atendeu à demanda global, enquanto a OMS estima que o primeiro trimestre do ano será marcado por um abastecimento “frágil”. Maior produtor de vacinas do mundo, a Índia também foi o epicentro de uma crise envolvendo o abastecimento de doses. A AstraZeneca havia dado licença para que laboratórios indianos fabricassem seu imunizante.
Mas Modi, com uma forte agenda nacionalista, optou por dar prioridade primeiro ao início de sua própria campanha de vacinação. Em segundo lugar, considerações geopolíticas pesaram e Nova Déli usou a vacina para ampliar sua influência na Ásia. Carregamentos, portanto, foram para Bangladesh, Mianmar, Butão, Sri Lanka e outros satélites regionais. Foi só depois que esses países receberam que o Brasil conseguiu receber suas doses. De acordo com o primeiro-ministro, 2,3 milhões de trabalhadores do setor de saúde já foram vacinados na Índia em cerca de duas semanas. O próximo passo, segundo ele, é atender a 300 milhões de idosos do país.
De forte cunho nacionalista, Modi é acusado de tomar medidas contra minorias e de minar o caráter de diversidade do país. Seus laços com líderes da extrema-direita também têm sido alvo de polêmicas.