O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou neste sábado (23) que ordenou a expulsão “o mais rápido possível” dos embaixadores de 10 países, incluindo os dos Estados Unidos, Alemanha e França, que pediram a libertação do opositor Osman Kavala.
“Ordenei ao nosso ministro das Relações Exteriores que prepare o mais rápido possível a declaração desses dez embaixadores como persona non grata”, disse o chefe de Estado turco durante uma viagem ao centro da Turquia, embora não tenha especificado nenhuma data.
“Deveriam conhecer e compreender a Turquia”, acrescentou Erdogan sobre os embaixadores, que acusou de “indecência”. “Eles têm que sair daqui desde o dia em que pararam de ver a Turquia”, acrescentou. A declaração de “persona non grata” é uma medida incomum nas relações diplomáticas e abre a porta para a expulsão ou uma convocação do embaixador para consultas.
“Durante todo o dia, (os diplomatas) repetem: Kavala, Kavala … Mas aquele de quem falam, Kavala, é um agente de Soros na Turquia”, disse o presidente turco durante um evento público, em uma referência ao bilionário americano George Soros. Em prisão preventiva há quatro anos, Kavala, de 64 anos, uma figura importante da oposição, é acusado desde 2013 pelas autoridades turcas de querer desestabilizar o país.
– “Um acordo rápido para o caso” – Em um comunicado divulgado na noite de segunda-feira, Canadá, França, Finlândia, Dinamarca, Alemanha, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Suécia e Estados Unidos pediram “um acordo justo e rápido para o caso” de Osman Kavala, empresário e mecenas turco que se transformou em um inimigo do regime.
O chefe de Estado turco já havia ameaçado na quinta-feira expulsar os embaixadores, mas sem tomar medidas concretas. O governo convocou os embaixadores dos 10 países na terça-feira passada, considerando “inaceitável” o apelo à libertação do opositor Osman Kavala.
Suécia, Noruega e Holanda foram os primeiros países a reagir ao anúncio de Erdogan e afirmaram que ainda não receberam uma notificação oficial sobre seus embaixadores.”Nosso embaixador não fez nada que justifique sua expulsão”, declarou uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores norueguês, Trude Måseide, citada pela agência de notícias NTB.
A Noruega “continuará exigindo que a Turquia respeite as normas democráticas e o Estado de direito como se comprometeu a fazê-lo ao assinar a Convenção Europeia de Direitos Humanos”, acrescentou.”Continuaremos defendendo nossos valores e princípios comuns”, declarou, por sua vez, o chanceler dinamarquês, Jeppe Kofod, citado pela agência Rizau.Os Estados Unidos tomaram conhecimento do informe e buscam explicações do Ministério turco de Relações Exteriores, disse um porta-voz do Departamento de Estado.
– Acusado de querer “derrubar o governo” – Em dezembro de 2019, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) tinha ordenado a “libertação imediata” de Kavala, mas foi uma sentença em vão. Preso sem julgamento, ele foi acusado em 2016 de tentar “derrubar o governo” na tentativa de golpe de Estado frustrado no verão daquele ano.
Kavala permanecerá preso pelo menos até 26 de novembro próximo, segundo decisão do tribunal de Istambul no começo de outubro, apesar das ameaças europeias de sanções contra as autoridades turcas.
O Conselho Europeu advertiu recentemente Ancara com a imposição de sanções, que poderiam ser adotadas em sua próxima sessão (de 30 de novembro a 12 de dezembro), se o opositor não for libertado antes destas datas.