O líder do Partido Trabalhista do Reino Unido, Jeremy Corbyn, disse nesta terça-feira (9) que pedirá ao novo primeiro-ministro conservador que submeta a referendo um eventual novo acordo do Brexit. Se isso acontecer, antecipou, sua legenda defenderá a permanência na União Europeia.
Numa carta às bases do partido, após uma reunião da direção trabalhista, Corbyn indicou que o partido “fará campanha pela permanência frente a uma saída sem acordo ou um pacto conservador que não proteja nem a economia nem o emprego”. “Quem quer que seja escolhido novo primeiro-ministro deve ter a confiança de submeter seu acordo, ou a falta dele, a uma consulta popular”, escreveu Corbyn.
O futuro chefe do governo britânico, a ser conhecido em 23 de julho, será ou Jeremy Hunt ou o favorito Boris Johnson, segundo a decisão das eleições internas entre os militantes do governista Partido Conservador.
Corbyn lembrou que o partido aceitou o resultado do referendo de 2016, quando 52% dos eleitores britânicos votaram pela saída britânica da UE, mas reconheceu que a questão do Brexit “tem sido divisiva nas nossas comunidades e, às vezes, no nosso partido também”.
Ao esclarecer sua posição sobre o Brexit, a direção trabalhista espera pôr fim às profundas divisões que castigaram a legenda desde o referendo de 2016. Na ocasião, o partido fez uma campanha ambígua e confusa que foi alvo de críticas. Imersos em tensões ideológicas desde ascensão de Corbyn à liderança, os trabalhistas se debateram durante muito tempo para conciliar o humor das bases, mais pró-europeias, com o de um terço de seus eleitores, que apoia a saída da UE.
O mau desempenho do partido nas recentes eleições ao Parlamento Europeu serviu de incentivo para que se definisse uma postura. Também houve pressão pelos sindicatos, que em reunião na segunda-feira pactuaram um plano de ação.
No entanto a mudança de postura de Corbyn ainda não foi total e não prevê que os trabalhistas estejam firmes em agir para que o Reino Unido permaneça na EU em todos os cenários possíveis. Jornais britânicos apontaram que o partido ainda deixou aberta a possibilidade de negociar um novo acordo com Bruxelas, caso a legenda vença eventuais eleições antecipadas.
Nesse cenário, a posição de campanha do partido e dos seus deputados dependeria do “tratado negociado”, segundo o documento acordado pelas organizações de trabalhadores filiados ao Trabalhismo.
A mensagem ambígua de Corbyn nesse cenário eventual foi recebida com ceticismo por Tom Brake, porta-voz do partido Liberal-Democrata, que é abertamente favorável à permanência na EU.
Brake escreveu no Twitter: “O trabalhistas ainda são um partido pelo Brexit”. Corbyn “pode fingir que está gostando que os trabalhistas estejam finalmente se movendo para apoiar a política dos liberais-democratas de uma votação popular, mas está claro que ainda é sua intenção negociar um acordo Brexit prejudicial, se ele receber as chaves para o número 10” – uma referência ao endereço do primeiro-ministro britânico, 10 Downing Street.
O acordo do Brexit foi rejeitado três vezes pelo Parlamento do Reino Unido, provocando a renúncia da primeira-ministra Theresa May, que segue no cargo até seu substituto ser definido, numa eleição entre os membros do Partido Conservador, que mantém a maior bancada na Câmara dos Comuns. O novo prazo para a separação entre Londres e Bruxelas foi fixado em 31 de outubro.