Rodrigo Negreiro
Desde sexta-feira, 150 aviões de guerra chineses fizeram incursões na chamada zona de defesa aérea taiwanesa, incluindo bombardeiros nucleares H-6. Ante a escalada de tensão, o ministro da Defesa de Taiwan, Chiu Kuo-cheng, afirmou que, “para as Forças Armadas, a situação atual é a mais sombria em 40 anos”. Ele estimou que até 2025 a China estará em posição de lançar um ataque em larga escala contra a ilha. Segundo Chiu, o “menor descuido” ou “erro de cálculo” pode provocar uma “crise” no Estreito de Taiwan, a faixa de água de 180km de largura que separa Taiwan da China. “No que diz respeito a encenar um ataque, eles (chineses) atualmente têm a capacidade. Mas a China terá que pagar o preço”, acrescentou. Pequim avalia Taiwan como parte de seu território e, por isso, deseja anexar a ilha capitalista e de sistema democrático, mesmo que por meio da força.
O ministro não descartou uma ofensiva imediata. “É capaz agora, mas precisa calcular o custo que terá que pagar e que tipo de resultado deseja alcançar. Depois de 2025, os custos e as perdas cairiam ao mínimo”, declarou Chiu. De acordo com a Agência Central de Notícias de Taiwan (CNA), o titular da Defesa fez as advertências durante reunião no Parlamento. Na ocasião, militares taiwaneses divulgaram um relatório em que admitiram que as capacidades para deter uma intervenção da China estarão prontas até 2025. “Nós faremos os preparativos militarmente. Nosso exército é assim: se precisarmos lutar estaremos na linha de frente”, comentou Chiu.
Em entrevista ao Correio, Tsung-Che Chang — representante do Escritório Econômico Cultural de Taipei em Brasília (Representação de Taiwan) — afirmou que há mais de cinco décadas a ilha sofre a ameaça chinesa de anexação. “Além das recentes incursões à nossa zona de defesa, um míssil está apontado para Taiwan desde há muitos anos”, disse, por telefone. “Nós vamos defender nossa democracia, nossa liberdade e nossa soberania. Não queremos guerra. Se ela ocorrer, estaremos prontos para defender Taiwan até o fim.” Segundo Chang, a ambição demonstrada por Pequim coloca em risco todas as nações vizinhas. “Não queremos guerra, mas temos forças armadas bastante capacitadas. Também temos mísseis prontos”, reafirmou.
O representante do escritório de Taipei no Brasil fez questão de lembrar que, sem o apoio da comunidade internacional, Taiwan “não conseguiria ir muito longe”. “Temos que agradecer aos Estados Unidos, que sempre estiveram ao nosso lado, durante anos, enquanto defendemos o nosso sistema democrático. A cada dia, mais pessoas apoiam Taiwan. Temos amigos que valorizam a democracia. Precisamos nos unir contra aqueles que desejam desafiar esse sistema secular do mundo, que é a democracia. E a aliança de Taiwan, em prol da democracia, é cada vez mais forte.” O Correio entrou em contato com a Embaixada da China em Brasília, mas, até o fechamento deste texto, não obteve resposta sobre uma entrevista.
Segundo a agência de notícias France-Presse (AFP), Pequim intensificou a pressão sobre Taiwan em 2016, nos campos diplomático, militar e econômico. Isso coincidiu com a ascensão ao poder da presidente Tsai Ing-Wen, em Taiwan. Ontem, a líder enviou um recado à China. “As ações (de Pequim) prejudicam seriamente a paz e a estabilidade na região”, disse Tsai, ao reiterar que Taiwan “fará o que for preciso” em defesa própria, apesar de privilegiar uma convivência pacífica.
Aliados de Taiwan, os Estados Unidos não esconderam preocupação com as manobras militares da China. “Respeitaremos o acordo sobre Taiwan. É nesse ponto que estamos e deixamos claro que acreditamos que Xi Jinping não deve fazer outra coisa a não ser respeitar o acordo”, afirmou o presidente norte-americano, Joe Biden, ao explicar que discutiu com o colega chinês sobre Taiwan. Em 1979, os Estados Unidos firmaram um acordo em que reconheciam diplomaticamente Pequim como autoridade na China, em vez do governo de Taipei. O pacto autoriza que Washington forneça material militar a Taiwan em uma relação não oficial e não diplomática. Em 2020, 380 aviões de guerra chineses incursionaram a zona de defesa de Taiwan. Desde o início deste ano, o número supera 600.
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“Apesar da recente incursão de aviões de guerra chineses, a bolsa de valores de Taipei continua a prosperar. Isso significa que o povo taiwanês tem confiança em nossas forças armadas e em nosso sistema de democracia. Essa incursão chamou a atenção do mundo e fez com que conseguíssemos mais apoio. Muitos países democráticos mostraram sua preocupação.” Tsung-Che Chang, representante do Escritório Econômico Cultural de Taipei em Brasília (Representação de Taiwan)
Encontro virtual antes do fim do ano – O presidente americano, Joe Biden, e seu contraparte chinês, Xi Jinping, planejam reunir-se virtualmente “antes do fim do ano”, anunciou um alto funcionário da Casa Branca. Há um “princípio de acordo” para um encontro “virtual bilateral”, disse o funcionário a jornalistas sob a condição de ter sua identidade preservada. “O presidente disse que seria agradável ver Xi, o que não tem feito há alguns anos”, disse o funcionário.