Líder da nação insular, Tsai Ing-wen afirmou neste domingo que reforçará defesas da ilha e que Taipei “não se curvará” à pressão de Pequim, pelo que o governo chinês chama de “reunificação”. Com isso, a crise diplomática entre China e Taiwan ganha um novo capítulo. No seu discurso no Dia da República Nacional da China, nome oficial de Taiwan, Ing-Wen acrescentou que Pequim “não ofereceria nem um modo de vida livre e democrático para Taiwan nem soberania para os seus 23 milhões de habitantes”.
O forte recado de Ing-wen ocorre apenas um dia após o presidente chinês, Xi Jinping, ter assegurado que a China “pode e irá conseguir” a reunificação com Taiwan, desta vez deixando de lado a ameaça de fazê-lo pela força. O líder chinês oferece a integração de Taiwan à China sob “um país, dois sistemas”, que, em teoria, é aplicado em Macau e Hong Kong, e que garantiria certo grau de autonomia. Em resposta, Ing-wen afirmou que fortalecerá as defesas do país para garantir que ninguém possa forçar Taiwan “a seguir o caminho que a China traçou”.
Desde o início deste mês, o governo chinês faz exercícios militares com aviões próximos ao espaço aéreo da ilha. As ações desencadearam uma série de reações de Taiwan, que enviou caças à região dos exercícios e reforçou suas defesas antiaéreas. Nações do Ocidente, principalmente os EUA, veem com preocupação a escalada dos acontecimentos. Ing-wen disse que continuará fortalecendo as defesas militares da ilha e que caberá ao povo local decidir sobre o seu futuro. Ela garantiu que seu país não irá agir precipitadamente, mas “que não deve haver absolutamente nenhuma ilusão de que o povo taiwanês irá se curvar à pressão chinesa”.
Proposta pouco atrativa – Para Ing-wen e outras autoridades de Taiwan a proposta de Xi Jinping é pouco atrativa, visto o controle cada vez mais evidente de Pequim sobre Hong Kong, em resposta aos protestos de 2019 exigindo mais liberdade. “Depois de assumirem o controle total de Hong Kong e de se voltarem contra os ativistas pró-democracia, as autoridades de Pequim também se afastaram do caminho do desenvolvimento político e econômico que começaram há décadas atrás”, frisou a presidente de Taiwan.
Sobre as relações com Pequim que, segundo o Ministro da Defesa de Taiwan, atravessam “o seu pior momento em 40 anos”, Ing-wen disse que não houve qualquer mudança na posição de Taiwan. “Afirmamos manter o status quo, faremos o nosso melhor para garantir que não seja unilateralmente alterado”, disse. “Para resolver as diferenças, as duas partes precisam entrar num diálogo baseado na igualdade”, discursou.
História – Taiwan é uma ilha governada de forma autônoma desde 1949, data em que as forças nacionalistas do Kuomintang ali se refugiaram depois de terem sido derrotados pelas tropas comunistas, que fundaram, no continente, a República Popular da China. Pequim considera Taiwan parte da China. Os dois países se separaram durante a guerra civil chinesa que levou os comunistas ao poder, no final dos anos 1940.
Em 1949, parte dos nacionalistas derrotados se refugiou na ilha e declarou a criação de um governo independente da China, algo nunca reconhecido formalmente por Pequim. Os comunistas sempre disseram que iriam retomar o que eles consideram uma província rebelde, o que é rechaçado pelo governo insular. Apesar de Taiwan ter relações diplomáticas com várias nações do Ocidente, a China considera a ilha seu território por direito, apesar de não governar oficialmente o país.