Rodrigo Craveiro/ CB
Foto: Katrín Jakobsdóttir, premiê da Islândia/ AFP
Eles impuseram, ou não, fortes restrições de isolamento social; atuaram com rapidez; rastrearam infectados com o uso da tecnologia; apostaram na prevenção; construíram capacidade hospitalar e priorizaram o maior número de testes possível. O sucesso das medidas transpareceu no precoce achatamento da curva pandêmica. Enquanto países como Estados Unidos, Espanha, Itália e Reino Unido viram o número de mortes provocadas pela
Covid-19 se acelerar nos últimos dias, tendência seguida pelo Brasil, quatro governos conseguiram evitar uma tragédia ainda maior: Taiwan, Coreia do Sul, Islândia e Alemanha.
Situada a 180 km da China continental, Taiwan — estado insular que Pequim considera como uma província rebelde — estaria hoje com o segundo maior número de casos de infecção pelo novo coronavírus, segundo o Centro de Pesquisa do Coronavírus da Universidade Johns Hopkins. No entanto, até o fechamento desta edição, os taiuaneses registravam 395 casos e apenas seis mortes, em uma população de 24 milhões de pessoas.
A presidente Tsai Ing-wen não ordenou o fechamento de escolas e de creches. Também não determinou o distanciamento entre os cidadãos da ilha. Suas primeiras ações foram a inspeção de todos os aviões procedentes de Wuhan, cidade da China central onde surgiu a doença, a criação de um centro de comando e a produção em massa de equipamentos de proteção individual.
Embaixador de Taiwan em Brasília desde 2018, Jian-Gueng Her afirmou ao Correio que o êxito no combate à Covid-19 se deve à ação preventiva e rápida do governo. “Assim que soubemos dos primeiros casos em Wuhan, começamos a medir a temperatura corporal de todos os viajantes nos aeroportos. Se estivessem acima de 38 graus, precisariam fazer o teste para a Covid-19”, comentou. A experiência com a Síndrome Aguda Respiratória Severa (Sars), em 2003, creditou o estabelecimento do Centro de Comando a Epidemias.
As autoridades de Taiwan se focaram em identificar o início da transmissão do novo coronavírus, para o isolamento do paciente e o mapeamento do roteiro feito por ele, a fim de frear a propagação. “Também usamos a tecnologia da informação. Com sintomas ou não, aqueles que testaram positivo são colocados em quarentena por 14 dias. Uma cerca de monitoramento eletrônico é usada; em caso de descumprimento da quarentena, a pessoa recebe uma multa. Além disso, o governo incentiva as pessoas de quarentena a ficar em casa, com uma ajuda diária equivalente a R$ 150”, explicou o embaixador taiuanês.
Com 51,8 milhões de habitantes, a Coreia do Sul registrava, ontem, 10.613 casos de contágio (0,02%) e 229 mortes. De acordo com Chan Woo Kim, embaixador do país em Brasília, a resposta contra a Covid-19 pode se resumir no Plano 3T (“Teste, rastreamento e tratamento”, pelas iniciais em inglês). “Tivemos a capacidade de realizar até 20 mil diagnósticos diários. Até hoje (ontem), foram concluídos 538 mil testes. Em relação ao rastreamento, fizemos uma investigação epidemiológica completa das pessoas que tiveram contato com pacientes confirmados. Por meio de um tratamento baseado em sistemas médicos avançados, os doentes se recuperaram rapidamente. Como resultado, 73% dos pacientes foram completamente curados e liberados, apenas 24% estão em tratamento, e é possível verificar uma baixa taxa de mortalidade de 2,1%”, afirmou a reportagem.
O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, e o premiê, Chung Sye-kyun, se reuniram com os chefes de ministérios para driblar o problema. “Nossos cidadãos confiaram e aderiram às medidas de quarentena, como atenção especial à higiene, ao distanciamento e ao auto-isolamento, apesar de todo o inconveniente. Por causa disso, a luta contra a Covid-19 foi mais eficiente”, observou Chan Woo Kim. Segundo o diplomata, as medidas de combate ao novo coronavírus se baseiam na transparência e na abertura, de forma ativa.
Redução – A Alemanha, da chanceler Angela Merkel, contabilizava, ontem, 136.569 casos e quase quatro mil mortos. O número relativamente baixo de óbitos, em comparação com Itália, Espanha, França e Reino Unido, não é motivo de alívio para o embaixador alemão no Brasil, Georg Witschel, no posto desde setembro de 2016. “Ainda não estamos no fim da crise. O número de mortes está aumentando na Alemanha e, por trás de cada uma dessas mortes, há um indivíduo. Perdemos mais de três mil cidadãos; isso é uma grande perda, não um sucesso. Desde o início de abril, o número de novos casos vem diminuindo lentamente. Estamos muito felizes com isso. O nosso governo está agora fazendo de tudo para retardar ainda mais a propagação do coronavírus e dar novamente mais liberdade aos cidadãos, o mais cedo possível, com pequenos passos”, declarou o diplomata.
Na quarta-feira, Merkel se reuniu com líderes dos estados federados e tomou “medidas cautelosas para amenizar a situação”, segundo Witschel. Ele citou a reabertura de lojas, sob condições especiais de higiene. “As restrições de contato foram ampliadas. Da mesma forma, as restrições de entrada para a Alemanha continuam a ser aplicadas.”
A Islândia, com 350.734 habitantes, amargava oito mortes. A premiê Katrín Jakobsdóttir adotou um plano agressivo de diagnosticar as infecções, traçar contatos sociais e usar a polícia para se comunicar com quem testa positivo para o novo coronavírus. Uma parceria entre o Hospital Universitário Nacional da Islândia e a empresa de biotecnologia de CODE Genetics permitiu a testagem de 10% da população.
» OMS vê Europa no “olho do furacão” – A Europa segue no “olho do furacão” da epidemia do novo coronavírus — declarou o diretor da seção Europa da Organização Mundial da Saúde (OMS), reconhecendo também “sinais animadores” em alguns países. “Embora nestas últimas semanas tenham havido sinais animadores no que se refere a números na Espanha, Itália, Alemanha, França e Suíça (…), nos últimos dez dias o número de casos registrados na Europa se multiplicou por dois até alcançar quase 1 milhão”, disse Hans Kluge, em entrevista coletiva virtual, feita de Copenhague.