Ahmed Eltigani Mohamed Swar recebe imprensa para falar da séria crise interna no Sudão iniciada em março de 2023
O governo do Sudão divulgou, nesta terça-feira (5), um relatório sobre os esforços das autoridades para aliviar a situação humanitária no país, que considerou “uma guerra pelo ouro”. Em Brasília, durante coletiva de imprensa na sede da embaixada, o embaixador do Sudão no Brasil, Ahmed Eltigani Mohamed Swar falou o cenário atual. Por meio de vídeo, mostrou a gravidade dos conflitos liderados pelo grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RFS) que já obrigou o deslocamento de mais de 10 milhões de pessoas e, segundo a ONU, a morte de 19 mil sudaneses e 33 mil feridos.
Segundo o embaixador Swar, o Sudão tem um posicionamento geográfico muito importante, principalmente, na região do mar vermelho, onde há um caminho de comércio e é fronteira entre o leste [asiático] e o ocidente [facilitando a] passagem entre a África e a rota de comércio pelo canal de Suez até a Europa. “A questão da mineração, o Sudão chegou a produzir mais de 100 mil toneladas de ouro em 2018, chegando a ser o terceiro maior produtor na África e na minha classificação é uma guerra por ouro nesse momento também”, afirmou Swar. O Sudão possui reservas estimadas em mais de R$ 161 bilhões.
Outra riqueza natural do Sudão é o gás natural. sendo dono de três trilhões de pés cúbicos de gás natural e também de vários outros minérios preciosos e semipreciosos, capazes de abastecer importantes mercados industriais e agrícolas no mundo.
Durante a coletiva o embaixador Swar acusou os países como Emirados Árabes Unidos e Chade de financiarem o grupo RSF. De acordo com o diplomata, Chade, que é vizinho do Sudão, aproveita essa condição ao fazer um corredor humanitário dar acesso à entrada de apoio das organizações internacionais para auxiliar a militância, milicianos de outros países. “Essa passagem também está sendo usada para entrega de armas e entrada no país de mercenários que ampliariam as fileiras do RSF”. afirmou.
“O governo do Sudão se disponibilizou e abre todos os canais possíveis para o fornecimento de ajuda humanitária para essas regiões que estão necessitando, em coordenação com todos os organismos internacionais. Como mencionei, essa guerra e esse conflito resultaram em mais de 10 milhões de pessoas saindo das suas cidades, dos seus lares, das suas casas, seja saindo para outras cidades internas dentro do Sudão ou como refúgio na vizinhança, nos países vizinhos”, complementou o embaixador.
ONU – As agências alimentares da Organização das Nações Unidas (ONU) alertaram, no dia 31, para o possível agravamento da fome nos próximos sete meses em muitas partes do mundo, sendo Gaza, o Sudão, Sudão do Sul, Mali e Haiti as mais preocupantes.
Em relatório semestral, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Programa Alimentar Mundial (PAM) disseram que os conflitos e a violência armada são responsáveis pela maior parte da insegurança alimentar aguda nas regiões analisadas.
A Organização das Nações Unidas (ONU) diz que cerca de 135.000 pessoas foram deslocadas, em grande parte para os Estados de Kassala, Gedaref e Rio Nilo, que já estão lotados com muitos dos quase 10 milhões de deslocados internos pela guerra devastadora que eclodiu em abril de 2023.
O escritório de direitos humanos da ONU disse na semana passada que houve pelo menos 25 casos de violência sexual, incluindo uma menina de 11 anos que morreu em consequência disso. O escritório também disse que a RSF havia confiscado dispositivos de internet em pelo menos 30 vilarejos e citou relatos de que eles haviam queimado plantações.O pior incidente foi em al-Sireha, onde o comitê disse que 124 pessoas foram mortas em 25 de outubro.
Cerca de 26 milhões de pessoas sofrem de fome aguda no Sudão, 755 mil das quais em “condições catastróficas de fome”, segundo um relatório divulgado hoje pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
Intitulado “Atualização Humanitária do Sudão”, o relatório refere que mais de metade da população do Sudão (25,6 milhões de pessoas) enfrenta atualmente fome aguda, incluindo mulheres grávidas e crianças, com “consequências fatais ou para toda a vida”.
Segundo o relatório da ONU, o país africano “continua a entrar numa espiral de caos” e a falência do sistema de saúde deteriorou ainda mais a situação.
Brasil – O embaixador Swar anunciou e agradeceu a ajuda do governo brasileiro que vai enviar, nesta quinta-feira (07), trinta tonelada de medicamento e suplemento médico para minimizar a crise humanitária no Sudão. Recentemente, o Itamaraty emitiu nota oficial afirmando que “acompanha com preocupação a escalada das hostilidades no país e recebe, com consternação, notícias sobre reiteradas agressões contra a população civil no país, a exemplo dos recentes ataques no estado de Gezira, que causaram dezenas de mortes”. O governo brasileiro pede a cessação imediata e incondicional dos enfrentamentos, ao respeito ao direito internacional humanitário e à retomada do diálogo.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores (MRE) o povo sudanês vem enfrentando desde o início de 2023 e que 24 milhões de sudaneses – atualmente 60% da população – se encontram em situação de vulnerabilidade social e de necessidades básicas. Sendo esse grupo formado por quase metade por crianças (47%), mulheres (26%) e pessoas portadores com alguma necessidade especial (15%).
Animado, o embaixador se disse convicto de que o Sudão se erguerá novamente e convidou o Brasil a ser um dos seus parceiros na reconstrução nacional. “Gostaríamos de contar com o apoio do Brasil, um país que se desenvolveu em muitos aspectos tecnológicos, que também pode apoiar bastante na reconstrução do Sudão pós-conflito”, afirmou.