Categoria do vinho foi determinada pelo governo italiano
Por Rachel Alves Nariyoshi
Prosecco “era o nome da variedade até 01/08/2009, quando foi criada a DOC Prosecco na Itália. A partir de então, a variedade passou a se chamar Glera e a Itália determinou que Prosecco seria todo e qualquer vinho produzido na região do Veneto e Friuli Venezia Giulta”, escreveu essa professora no artigo “O que é Prosecco?”. Bem semelhante ao champagne que só pode ser rotulado a palavra “Champagne” nos vinhos espumantes produzidos dentro da AOC Champagne, elaborados pelo método tradicional e com seis uvas (Arbane, Pinot Blanc, Petit Meslier, Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunie), muito embora hoje em dia os produtores têm usado somente três uvas mais significativas em produção e qualidade que são Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier. Ligado aos vinhos espumantes, devemos falar aqui, também, da espanhola CAVA, produzida pelo método tradicional, em vinhedos autorizados e apenas das Macabeo, Xarel-lo, Parellada, Malvasía, Chardonnay, Monastrell, Pinot Noir e Trepat.
Mas voltando a falar da DOC Prosecco, a Glera é a variedade mais difundida no norte da Itália, cultivada numa área de 9,1 mil hectares, exclusivamente, para elaboração de Vinhos Espumantes Prosecco. Além da Glera, recentemente outras variedades são autorizadas no corte do vinho espumante, mas só até 15%, e estas são Verdiso, Bianchetta Trevigiana, Glera lungo, Chardonnay, Pinot Bianco e Pinot Grigio e Pinot Noir.
A legislação italiana determina a finalização do uso do nome Prosecco nos rótulos mundo afora até 2031, a fim de preservar a região delimitada no norte da Itália com esse nome.
Mas minha gente, parece não ter fim a utilização do termo Prosecco. Surge agora em 2023, vindo da Austrália, relatório “liberando” o uso da palavra Prosecco nos vinhos espumantes produzidos naquele país. Esse relatório não concorda com o nome Prosecco protegido e destaca a falta de evidências do governo italiano para alterar o nome da uva para Glera.
Segundo a jornalista Paula Daidone, o relatório que contraria as tentativas da União Europeia de limitar o uso da palavra, indica que a nomenclatura é utilizada para designar a variedade há mais de 1700 anos e destaca a falta de evidências produzidas pelo governo italiano e pela União Europeia (EU) quando o nome da uva Prosecco foi alterado para Glera em 2009. “As evidências falam por si, o Prosecco é reconhecido como o nome de uma uva há séculos, não como uma indicação geográfica (IG). Proteger o termo como indicação geográfica é uma tentativa de evitar a concorrência dos produtores do mesmo vinho”, afirma o professor australiano Mark Davidson, um dos autores do relatório.
A defesa australiana tem a ver com o “negócio do Prosecco” que gera USD 135 milhões ao ano, com a uva sendo cultivada em 20 regiões do país. “Perder o direito de usar o termo Prosecco seria um grande golpe para o setor vitivinícola”, afirma o relatório que levou cinco anos para ser concluído e envolveu membros da faculdade de direito da Universidade Monash e da Universidade Macquarie, ambas na Austrália, cujo governo realizou um processo público de objeções às Indicações Geográficas (IGs) da União Europeia, incluindo o Prosecco. Os cidadãos participaram, deram sugestões e o resultado foi esse: objeções à DOC Prosecco!
Concluímos então que o embrólio continua! Uma luta infinita dos italianos para resgatar a personalidade, as raízes e a região de nome Prosecco. E o Brasil, ao que tudo parece, acompanha a Austrália.
Então vamos ao brinde com o vinho espumante Prosecco!
@rachelalves.professoravinhos