O UOL apurou que a avaliação de líderes partidários do Senado é que não há clima hoje para tocar interesses do Itamaraty em meio a uma gestão que não consegue dialogar bem com países que poderiam ajudar o Brasil no fornecimento de vacinas e insumos, como Estados Unidos, Índia e China. A embaixada chinesa, que já foi alvo de críticas do governo Bolsonaro, é uma das mais insatisfeitas, segundo relatos.
Os próprios senadores receberam ligações de reclamações de embaixadores quanto a ações e declarações de Ernesto Araújo. As queixas foram levadas ao presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Indicações na fila – Atualmente, há uma indicação à espera de deliberação na CRE (Comissão de Relações Exteriores) e outras oito na fila do plenário da Casa, informou a secretaria do colegiado. Normalmente, depois de indicados a cargos para os quais precisam da aprovação do Senado, os diplomatas ou outras autoridades comparecem à CRE para mostrar os planos à frente da representação brasileira e responder a perguntas. Se aprovados pela comissão em sabatina, precisam ter o nome ratificado em plenário.
A indicação pendente de apreciação hoje na CRE é referente à diplomata Vera Lúcia dos Santos Caminha Campetti. A intenção do governo é que a embaixadora acumule mais países do Caribe sob sua responsabilidade.
A diplomata Vera Lucia dos Santos Caminha Campetti Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado.
Das oito indicações prontas para deliberação em plenário, as principais são de diplomatas às embaixadas do Brasil no México e na Austrália. O congelamento dessa análise também é um recado dos senadores para que, caso Ernesto realmente seja demitido da função, Bolsonaro não cogite indicá-lo a um cargo no exterior que, para assumi-lo, precise ter o aval do Senado. Senadores ouvidos pelo UOL afirmam que o nome dele não será aprovado pela Casa.
Na última quarta-feira (24), em audiência a senadores, Ernesto Araújo foi duramente criticado e vários parlamentares pediram sua saída. Sua queda também conta com o apoio de Pacheco e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Em seu lugar, a cúpula do Congresso e o centrão articulam senadores como eventuais substitutos.
Em dezembro do ano passado, o plenário do Senado rejeitou uma indicação diplomática de Bolsonaro. Além de ter se recusado a responder todas as perguntas feitas pelos senadores na sabatina da CRE, o diplomata Fabio Mendes Marzano, então indicado para o cargo de delegado permanente do Brasil em Genebra, na Suíça, era visto como integrante da equipe mais próxima a Ernesto. Reprovações a indicados são raras. A rejeição de Marzano foi entendida como uma espécie de sinal a Ernesto Araújo de que já não era bem-visto no Senado.
O que também dificulta a análise dessas indicações hoje é o fato de o sistema remoto do Senado ainda não permitir a realização de votações secretas, como é de praxe nesses casos. Para a eventual votação, os senadores teriam que se deslocar a Brasília. A votação presencial com diversas medidas de proteção já aconteceu pontualmente no ano passado, mas, agora, com o agravamento da pandemia, os senadores têm mais receio de ir ao Congresso Nacional.