O Brasil não está nos planos de Israel nos dois grandes investimentos do país depois de ter vacinado a maioria de sua população: a diplomacia do coronavírus e a retomada do turismo estrangeiro.
Com números da doença em baixa – apenas 50 novos infectados por dia e quase nenhum óbito–, a vida praticamente voltou ao normal no país de 9,3 milhões de habitantes. Agora as autoridades se preparam para inocular também crianças de 12 a 15 anos, o que deve ser feito assim que a agência reguladora americana (FDA) der o sinal verde nos Estados Unidos.
Quando isso acontecer, cerca de 600 mil crianças se juntarão ao universo de quase 5,5 milhões de israelenses (60% da população) que já tomaram pelo menos uma dose da vacina. Pelos registros oficiais, outras 800 mil pessoas já se recuperaram da Covid-19 no país.
Justamente por causa dos bons números, o Ministério das Relações Exteriores de Israel começou a oferecer assistência a outros países, começando pela Índia. Os israelenses têm enviado desde a última terça-feira (4) carregamentos com milhares de geradores de oxigênio, respiradores, medicamentos e outros equipamentos médicos.
“A extensão da assistência de emergência é uma expressão da profunda amizade entre nossos países, nos tempos de necessidade da Índia”, disse o chanceler Gabi Ashkenazi. Ele lembrou, ainda, que, no início da pandemia de coronavírus, a Índia ajudou Israel, aprovando o fornecimento de máscaras e matéria-prima para medicamentos. Segundo Tammy Ziv, representante do departamento econômico da chancelaria, o carregamento inclui cooperação com empresas privadas, instituições bilaterais e ONGs.
No começo de março, uma delegação do Brasil chefiada pelo então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, passou três dias em Israel para negociar a realização, no Brasil, das fases 2 e 3 de testes do spray nasal EXO-CD24, desenvolvido pelo Centro Médico Sourasky, em Tel Aviv. A delegação também assinou um protocolo de intenções com o Hospital Hadassah, em Jerusalém, para realização da fase 3 de testes da vacina desenvolvida localmente contra o coronavírus, a BriLife.
Questionados sobre uma possível ajuda ao Brasil, agora, interlocutores da chancelaria israelense disseram à reportagem que há apenas um diálogo sobre questões ligadas à Covid-19, incluindo cooperação, mas que não houve um pedido oficial do governo brasileiro.
Os vizinhos Argentina e Uruguai, por sua vez, estão recebendo apoio de hospitais de Israel. O Hadassah, de Jerusalém, enviou nesta sexta-feira (7) cinco especialistas israelenses a Buenos Aires após fechar um acordo com o governo argentino, que tomou a iniciativa de pedir a missão.
Segundo o presidente da instituição, Robert Dorfman, a delegação vai “fornecer conhecimento e experiência críticos aos profissionais médicos da linha de frente na Argentina”. Enquanto isso, o maior hospital de Israel, o Centro Médico Sheba, em Tel Hashomer, enviou em 26 de abril um grupo de especialistas ao Uruguai, que ficou no país. O objetivo foi ajudar o governo local a combater as novas mutações do vírus, principalmente a variante brasileira.
Segundo comunicado divulgado pelo hospital, a delegação discutiu com seus anfitriões uruguaios “uma série de operações logísticas complexas, como a instalação de uma enfermaria psiquiátrica e outra de diálise” relacionadas às complicações causadas pela Covid-19. O hospital também prometeu doar US$ 200 mil (R$ 1,04 milhão) em equipamentos médicos, incluindo respiradores e monitores.
“O balanço [da viagem] foi extremamente positivo sob diversos ângulos: técnico-profissional, contribuição científica e em relação à interação com todos os grupos e instituições públicas e privadas”, disse o ministro de Saúde Pública do Uruguai, Daniel Salinas. Os bons resultados da vacinação e dos três lockdowns realizados pelo governo israelense também estão levando a um otimismo no setor de turismo, uma das áreas mais atingidas pela pandemia.
A partir do próximo dia 23, turistas de 14 locais já poderão visitar Israel, desde que estejam totalmente vacinados: Portugal, Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Malta, Islândia, Dinamarca, Irlanda, Nova Zelândia, Austrália, Singapura e Hong Kong.
Já o Brasil, com o segundo maior número de mortes pela doença no mundo, faz parte de outra lista desde segunda-feira (3): a dos sete países com entrada barrada em Israel. Salvo permissão especial, estão vetados viajantes do Brasil, Índia, México, África do Sul, Ucrânia, Etiópia e Turquia. A Argentina pode entrar na lista nos próximos dias.
Com isso, o Ministério da Saúde de Israel quer evitar a propagação da variante brasileira depois de que dois israelenses – um homem vacinado e um bebê– foram diagnosticados com a mutação no começo do mês. Ambos haviam retornado do exterior. Além disso, Israel também implementou novas instruções para israelenses que estejam voltando de viagem desses países. Mesmo os já vacinados precisarão fazer quarentena de 14 dias – ou de 10 se apresentarem dois exames PCR negativos.
É o que espera a carioca naturalizada israelense Daniele Pitkowski, 27, que mora há quatro anos em Israel. Há um ano e meio sem ver os pais e depois de se vacinar com as duas doses da vacina da Pfizer/BioNTech, ela decidiu viajar para o Rio no sábado passado (1°), quando tinha duas semanas de férias do seu curso na faculdade.
Israel fechou as portas para o Brasil dois dias depois, e agora ela não sabe se precisa enfrentar o período de quarentena obrigatória. “Está tudo ainda incerto. Espero que não cancelem o meu voo.” Daniele diz já imaginava que algo assim pudesse acontecer diante da proliferação do coronavírus no Brasil. “Vim com o computador para trabalhar remotamente. E como o MBA está com aulas híbridas, também posso assistir pela internet. Pelo menos isso facilita muito.”