Liz Elaine Lôbo
Produção: Elna Souza
À frente do órgão em São Paulo, Julio Serson sabe bem da importância, agora ainda maior, de atrair investimentos, apoiar exportação e participar de projetos de cooperação. Em entrevista exclusiva à revista Embassy, o secretário de relações internacionais fala das parcerias com as câmaras de comércio; dos eventos para promover oportunidades de negócios para o estado paulista. Serson lembra que, no início do ano, o governador realizou diversas missões internacionais, trazendo cerca de R$ 30 bilhões em investimentos para o governo estadual. Leia agora entrevista completa do secretário Julio Serson
Embassy . O mundo está enfrentando a crise de saúde pública mais séria das últimas gerações. Como passar por esse impacto econômico? Como criar oportunidades de negócios?
Recursos externos serão muito importantes no pós-pandemia. Mas, como disse o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer, em recente entrevista ao Roda Viva, para termos esses recursos, o componente de credibilidade é indispensável para o Brasil.São Paulo tem feito sua parte, porque acreditamos que a criação de oportunidades depende de uma política externa baseada na concretude dos resultados, os quais dependem, fundamentalmente, da cooperação entre parceiros comerciais estratégicos. É dessa maneira que São Paulo tem trabalhado, criando oportunidades de novos investimentos, tanto estrangeiros em São Paulo, como brasileiros para os países e regiões com os quais mantém contato.
Organizamos missões internacionais para Ásia, Europa e EUA e Oriente Médio, e outras tantas estão previstas para depois da pandemia. Todas elas visam oportunidades de negócio, desenvolvimento e estímulo à inovação,sem perder de vista, certamente, o interesse nacional, a preservação dos direitos humanos e os princípios do crescimento sustentável.
A tradição de um internacionalismo de vocação responsável, pacífica e com resultados concretos são, portanto, valores que norteiam a condução das relações internacionais estabelecidas por São Paulo.Dentro do Plano de Desestatização de São Paulo, por exemplo, concedemos a um consórcio formado pela gestora Pátria e pelo fundo soberano de Cingapura GIC o corredor rodoviário Piracicaba-Panorama, conhecido por ‘Pipa’, a maior concessão desse tipo no país até hoje. O grupo pagará ao governo do estado de São Paulo uma outorga de R$ 1,1 bilhão e investirá outros R$ 14 bilhões em obras na via. O contrato foi assinado no início de maio.
Embassy – Existe um acompanhamento das ações que estão sendo realizadas globalmente? Quais os principais objetivos hoje da secretaria?
Sim, acompanhamos diariamente todas as ações externas, temos um time de técnicos focado nesse trabalho dentro da Secretaria de Relações Internacionais. Além disso, meu contato com os representantes consulares em São Paulo é diuturno, temos uma interação muito profícua. Os principais objetivos da secretaria são (i) contribuir para a atração de investimentos, por meio de eventos e missões internacionais (ii) apoiar a promoção das exportações paulistas e (iii) auxiliar no aprimoramento das políticas públicas, por meio de projetos de cooperação com outros governos e organizações internacionais.
Embassy – Existe uma parceria da secretaria com as Câmaras de Comércio? Quais os reais benefícios dessas entidades na visão do senhor?
Sim, o Governo do Estado de São Paulo mantém parceria e já assinou protocolos com câmaras de comércio estabelecidas em nosso estado e com agências estrangeiras. E nós, da Secretaria de Relações Internacionais, sempre que necessários trabalhamos em conjunto com essas câmaras para estabelecer interlocução entre empresas estrangeiras e o governo.
Embassy – O secretário acha que as empresas deverão se preocupar em ter um propósito com contrapartida para a sociedade?
Sim, certamente as ações criadas pelo Governo do Estado de São Paulo visam promover oportunidades de negócios atreladas, sempre, ao desenvolvimento, criação de empregos e retorno à população, no que diz respeito à saúde, educação e segurança. O desenvolvimento tecnológico e inovador é tema principal em nossa agenda de governo. Nossas iniciativas priorizam essa pauta com observância dos direitos humanos e daqueles que norteiam o crescimento sustentável.
Embassy – De que forma o Estado de São Paulo se preocupa com o meio ambiente, como coopera com as questões ambientais internacionais?
O Estado de São Paulo tem uma política de meio ambiente exemplar, não só em relação aos demais estados brasileiros, mas também a outros países da América Latina, incluindo programas, legislação, normas e ações em relação à qualidade do meio, à restauração florestal, à proteção de nascentes, à biodiversidade de maneira geral, além de ter um programa que estimula os 645 municípios paulistas a desenvolver políticas ambientais de acordo com as regras estaduais.
O estado é associado de várias redes globais de governos regionais e locais, como por exemplo o ICLEI, a Regions 4 (vice coordenador para a América), o The Climate Group e a Coalizão Under 2. Em relação às políticas globais, São Paulo tem várias ações desenvolvidas.
O Governador João Doria, por meio da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, da Secretaria de Relações Internacionais e da CETESB, lançou o Acordo Ambiental São Paulo no dia 29 de novembro de 2019 A ação precedeu a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2019 (COP25) que ocorreu em dezembro em Madri, na Espanha. O acordo contou com a assinatura de 55 empresas comprometidas com o envio de informações relativas ao balanço das emissões para que a CETESB avalie e auxilie na elaboração de planos de mitigação.
Em relação à Diversidade Biológica, o Estado de São Paulo tem um trabalho muito próximo ao Secretariado da Convenção de Diversidade Biológica.Foi o único estado brasileiro que teve uma Comissão Paulista de Biodiversidade responsável pelo Plano Estadual de Biodiversidade. E agora, em fevereiro, realizou o evento “BIO2020: Perspectivas Brasileiras para o Marco Pós-2020 de Biodiversidade”, com o intuito de discutir as metas de biodiversidade para a próxima década, que substituirão as Metas de Aichi, e que serão definidas na próxima COP de biodiversidade.
O evento reuniu governos federal, governos locais, comunidade acadêmica, organizações não-governamentais e sociedade civil num grande debate sobre o momento de união de esforços de todas as áreas para a contribuição a esta nova etapa que substituirá as Metas de Aichi. Foi feito em parceria com o ICLEI América do Sul, Regions4, Expertise France e Post 2020 Biodiversity Framework – EU Support (União Europeia).
O Estado de São Paulo tem uma Comissão Estadual para trabalhar nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). A missão desse grupo é orientar a implementação dos objetivos em todo o setor governamental, municípios e sociedade civil do estado de São Paulo.
Embassy – Quais são as missões do governador no âmbito internacional e de que forma a secretaria auxilia nesse trabalho?
Em 2019 o governador realizou diversas missões internacionais, trazendo cerca de R$ 30 bilhões em investimentos para o Estado de São Paulo. Como pontuei acima, organizamos missões para países da Ásia, Europa, Oriente Médio e para os EUA. Em 2020, por exemplo, foram concluídas duas missões. Em janeiro, para Davos, Suíça, e, em fevereiro, para Dubai e Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos. As demais missões previstas para o ano estão suspensas, por ora, em razão da pandemia de COVID-19.
A Secretaria de Relações Internacionais tem um papel de suma importância nas missões que são realizadas, dando suporte junto às Embaixadas ou Consulados do país de destino da missão, auxiliando na definição das agendas com os investidores, empresários e membros do governo local.