Unidades industriais representam 30% das exportações ao país árabe. Foram alegados motivos técnicos para a decisão, que pode ser revertida
Thais Sousa
tsousa@anba.com.br
A Arábia Saudita suspendeu as importações de carne de frango de cinco frigoríficos brasileiros. Estas unidades industriais representam 30% das exportações do produto do Brasil ao país árabe. Os sauditas divulgaram lista autorizando o comércio com apenas 25 das 130 plantas originalmente habilitadas a exportar. Na prática, porém, só 30 unidades de fato exportavam. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) informou nesta terça-feira (22) que tomou conhecimento ontem (21) do relatório publicado pelo serviço sanitário da Arábia Saudita, onde o órgão declara quais estabelecimentos brasileiros podem exportar aves ao país.
Após visitas a unidades produtoras brasileiras em outubro de 2018, a autoridade saudita avaliou que 25 delas estavam 100% de acordo com suas exigências. Já as outras cinco não atendiam completamente os critérios técnicos. Entre esses critérios, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) informou que os sauditas alegaram questões como a necessidade de treinamento de colaboradores em determinados pontos do fluxo produtivo, ou a presença de rachaduras no piso da área de estocagem do produto já embalado em uma das instalações.
De acordo com a Câmara de Comércio Árabe Brasileira, embora o número de empresas habilitadas fosse maior, apenas 30 já embarcavam produtos efetivamente. A suspensão, então, afetou cinco plantas frigoríficas. Contudo, essas cinco juntas representam 30% dos embarques realizados pelo Brasil à Arábia Saudita.
“A Arábia Saudita é o maior comprador do mercado brasileiro há 17 anos. De 2017 para cá, em função da Operação Carne Fraca, eles (os sauditas) tiveram uma frequência maior [de missões de inspeção]. A do ano passado foi a missão mais demorada, ficaram 30 dias, e resultou neste diagnóstico, onde é sabido que [um frigorífico] pode ser aprovado ou suspenso. É suspensa, mas é possível ser retomada (a autorização), faz parte do processo, não é nada atípico ou definitivo”, disse Rubens Hannun, presidente da Câmara Árabe.
Hannun acrescentou que a equipe da Câmara Árabe já tem marcada uma viagem ao país árabe, além de uma reunião com a ministra da Agricultura do Brasil, Tereza Cristina. “Não era em função disso (da suspensão), já estavam marcadas, mas vamos falar disso”, afirmou.
O presidente da ABPA, Francisco Turra, se reuniu na tarde desta terça com a ministra da Agricultura, em Brasília, para discutir o tema. “É muito difícil um prognóstico, mas é possível que dentro de 30 dias possa ser retomada [a autorização]”, pontuou Turra em entrevista à GloboNews. Questionado sobre possíveis motivos políticos, o presidente da ABPA afirmou que descarta a possibilidade. “Por hora, (a motivação) é mercadológica, do mercado local (saudita), uma proteção”, declarou Turra.
A possibilidade também foi comentada por Rubens Hannun que, no entanto, destacou o peso da questão técnica. “Parece ser uma decisão bem técnica, de maneira direta. A Arábia Saudita está também desenvolvendo uma indústria local e é normal que seja exigente (com importações)”, afirmou.