Ana Cristina Dib
As sanções econômicas a serem anunciadas ontem (4) pelo presidente Donald Trump contra o Irã, as mais duras já aplicadas pelos Estados Unidos contra qualquer país em todos os tempos, são aguardadas com apreensão e expectativa por representantes governamentais e especialmente por exportadores brasileiros, receosos dos reflexos que essas medidas poderão ter no futuro do comércio entre o Brasil e o Irã.. Há quem aposte que, no médio e logo prazos, essas medidas podem reduzir a pó o megassaldo de mais de US$ 5 bilhões que deverá ser obtido este ano pelo Brasil no intercâmbio com os iranianos.
Ao anunciar a retomada das sanções contra o Irã, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo afirmou que “nossas medidas visa ao regime, não aos próprios iranianos” e complementou dizendo que “é por isso que mantivemos e continuaremos a manter muitas isenções humanitárias às nossas sanções, incluindo alimentos ou produtos agrícolas, medicamentos e dispositivos de saúde”.
Apesar da ressalva, é importante destacar que com as sanções, os Estados Unidos pretendem barrar o acesso ao mercado americano a todos os países ou empresas que continuarem a importar o petróleo iraniano ou realizar transações com bancos da república islâmica. De acordo com Pompeo, “o objetivo é privar o regime das receitas que Teerã utiliza para semear a morte e a destruição em todo o mundo.
Oito países poderão continuar a comprar petróleo iraniano por pelo menos mais seis meses, “apenas porque fizeram esforços significativos para trazer de volta a zero suas importações de petróleo bruto procedente do Irã”. Entre outros seriam a Turquia, Coreia do Sul, Índia e Japão.
Na avaliação de fontes governamentais brasileiras, mediante pedido de manterem-se no anonimato, “não existe nenhuma garantia de que o Brasil poderá seguir expandindo suas vendas de produtos agropecuários para o Irã. O problema é que os bancos temem tanto o efeito prático dessas sanções que não querem ter nada a ver com o Irã. Nenhum banco vai se dispor a fazer negócios com o Irã mesmo aqueles envolvendo produtos farmacêuticos ou do agronegócio, que ficariam teoricamente imunes às sanções impostas pelo presidente Trump. Os bancos temem passar pelos canais financeiros iranianos. É também grande o temor de que Teerã utilize empresas disfarçadas em organizações humanitárias para importar alimentos, remédios, dispositivos médicos e usá-los para apoiar atividades terroristas no exterior”.
Exportações em forte alta
Enquanto as sanções não entram em vigor, o Brasil amplia de forma consistente suas exportações para o Irã. Este ano, as vendas para o Irã registraram até o mês de setembro uma forte alta de 136,56% e totalizaram US$ 4,588 bilhões, enquanto as importações de produtos iranianos somaram pouco mais de US$ 38 milhões. Assim, de janeiro a setembro o Brasil acumulou um superávit de US$ 4,551 bilhões nas trocas comerciais com os iranianos, o maior já registrado na história do comércio com aquele país e o segundo maior saldo obtido pelo Brasil em seu intercâmbio global com terceiros países, atrás apenas da China, país com o qual o Brasil acumulou até o mês de setembro um saldo de mais de US$ 20,4 bilhões.