Dar es Salaam, 18 Mar 2021 (AFP) – Encerrando três semanas de ausência inexplicada e vários rumores, Hassan anunciou na quarta-feira à noite – em voz lenta e moderada – a morte do presidente Magufuli, reeleito para um segundo mandato em outubro.
Natural do arquipélago semiautônomo de Zanzibar, cujas relações com a Tanzânia continental são historicamente tensas, Hassan ocupará a presidência “pelo período restante do mandato de cinco anos”, ou seja, até 2025, de acordo com a Constituição da Tanzânia. Conhecida por encorajar as mulheres a perseguirem os seus sonhos, esta mãe de quatro filhos já era a primeira vice-presidente da história do país, desde a chegada de Magufuli ao poder em 2015.
“Posso soar educada e não grito quando falo, mas o mais importante é que todos entendam o que eu digo e que as coisas sejam feitas como eu digo”, disse ela, no ano passado. Nascida em 27 de janeiro de 1960 em uma família modesta – pai professor e mãe dona de casa -, Hassan tem mestrado em “desenvolvimento econômico comunitário” pela Universidade Livre da Tanzânia, em Dar-es-Salaam, e pela universidade de Southern New Hampshire, nos EUA.
Rosto da Tanzânia no exterior – Ela começou sua carreira no governo de Zanzibar, onde trabalhou entre 1977 e 1987, ocupando inicialmente funções administrativas e depois uma função de gestora de desenvolvimento. Também em Zanzibar, ingressou no Programa Mundial de Alimentos (PMA) de 1988 a 1997 como gerente de projeto, depois dirigiu por dois anos a associação de ONGs do arquipélago, Angoza. Sua carreira política começou em 2000, quando foi nomeada membro do Parlamento de Zanzibar pelo partido presidencial tanzaniano Chama Cha Mapinduzi (CCM), ainda hoje no poder. Mais tarde, foi eleita para a Assembleia Nacional da Tanzânia.
Hassan foi ministra várias vezes: em Zanzibar (Mulheres e Juventude, depois Turismo e Comércio) entre 2000 e 2010, e em nível nacional a partir de 2014, à frente da pasta de Assuntos Sindicais, no governo de Jakaya Kikwete. Como vice-presidente, um papel secundário, tornou-se o rosto da Tanzânia no exterior, onde regularmente representava Magufuli. Em 2019, sob sua supervisão, o Ministério do Meio Ambiente proibiu o uso de sacolas plásticas. Em 2016, houve rumores de que ela havia renunciado, devido a divergências com o chefe de Estado. A informação foi negada por um comunicado oficial.
No ano passado, porém, em um discurso na presença de Magufuli, ela falou de uma certa incompreensão de sua ação na época. Hassan vai liderar um país marcado por um giro autoritário desde a chegada de Magufuli ao poder. Apegado ao combate à corrupção, lançou grandes projetos de infraestrutura, mas também amordaçou a oposição e liderou uma repressão aos defensores dos direitos humanos e à mídia. Em outubro, sua reeleição foi rejeitada pela oposição, que denunciou fraudes. “Para aqueles que esperam uma ruptura com o estilo Magufuli, eu diria: ‘prendam a respiração por enquanto'”, comentou nesta quinta-feira o analista tanzaniano Thabit Jacob, pesquisador da Universidade Roskilde, na Dinamarca.
Para ele, a primeira mulher presidente da Tanzânia governará “com uma base muito mais fraca, que será controlada pelo clã Magufuli e pela Inteligência”. “Ela terá dificuldades para construir sua própria base e surgirão rivalidades entre facções”, prevê. Hassan será uma das poucas mulheres atualmente no poder na África, ao lado da etíope Sahle-Work Zewde, cujas funções são honorárias.