Com informações do correspondente da RFI em Moscou, Paul Gogo, e da AFP
“Um diplomata ucraniano, o cônsul do Consulado Geral da Ucrânia em São Petersburgo, Alexander Sosonyuk, foi detido pelo FSB da Rússia”, afirmou o serviço de segurança em um comunicado. O diplomata, que representava Kiev na cidade há dez anos, foi preso na manhã deste sábado poucas horas após outro funcionário do mesmo consulado ter sido detido para interrogatório.
O serviço de Inteligência interno russo acrescentou que Sosonyuk foi descoberto “com a mão na massa” durante um encontro com um cidadão russo, quando buscava receber informação “confidencial”. Segundo o FSB, órgão sucessor da KGB, “tal atividade não é compatível com seu status diplomático e é de uma clara natureza hostil para com a Federação Russa. Em conformidade com o direito internacional, serão tomadas medidas contra o diplomata estrangeiro”, completou.
Em um comunicado, o ministério russo das Relações Exteriores anunciou ainda que convocou o encarregado de negócios ucraniano na Rússia, Vasili Pokotilo, para protestar contra as “atividades ilegais” de Sosonyuk. Moscou deixou claro que a presença do diplomata em território russo “não era mais bem-vinda” e recomendou que ele “abandone suas fronteiras em 72 horas”.
Provocação – Kiev confirmou que o diplomata ficou preso por várias horas, até ser liberado, e que se dirigiu para o consulado ucraniano. Em um comunicado enviado às agências de notícias, o porta-voz do Ministério ucraniano das Relações Exteriores, Oleg Nikolenko, disse que a detenção é “outra provocação, em meio às atividades de desestabilização da Rússia”.
O representante de Kiev expressa um “enérgico protesto contra a detenção ilegal” de Sosonyuk e afirma que “descarta completamente” a veracidade das acusações contra seu compatriota. Ainda segundo o porta-voz, a Ucrânia expulsará um diplomata russo como represália, em um prazo de 72 horas.
Nos últimos anos, a Rússia deteve vários cidadãos ucranianos acusados de espionagem, mas a prisão de um diplomata é pouco comum. As tensões russo-ucranianas estão em um movimento ascendente há várias semanas. A Ucrânia acusa a Rússia de buscar uma justificativa para invadi-la, enquanto a Rússia acusa a Ucrânia de preparar uma ofensiva contra os separatistas pró-russos do leste ucraniano.
Desde o final de março, quando a Rússia enviou veículos blindados e navios para a fronteira ucraniana, a tensão aumenta não apenas entre os dois países, mas também com os parceiros da União Europeia e até os Estados Unidos, que tentam conter a situação. Na sexta-feira (16) a chanceler alemã Angela Merkel, o presidente francês Emmanuel Macron e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pediram, após uma reunião organizada por Paris, a retirada das tropas russas da fronteira com a Ucrânia, em prol da “desaceleração” das tensões na região.
No entanto, até agora os especialistas não são capazes de determinar, com certeza, se as ações de Moscou representam um verdadeiro risco de ataque militar ou apenas uma demonstração de força do governo russo.