Liz Elaine Lôbo
Produção: Elna Souza
As autoridades locais estão na fase de definir exatamente o tipo de ajuda, para vários setores, conforme as necessidades. O embaixador da Romênia no Brasil, Stefan Mera, em entrevista exclusiva à revista Embassy, nega que haja diferença de tratamento às centenas de romenos de comunidades pobres e ciganos que quiseram retornar ao país.
Segundo Mera ainda não existe uma decisão definitiva em relação às próximas eleições marcadas para novembro próximo. A seu ver, elas irão acontecer, “não mais tarde que 21 de março de 2021”. Para o embaixador, somente uma “solidariedade global” será capaz de fazer as nações vencerem essa grande crise mundial. Leia a íntegra da entrevista com Stefan Mera.
Embassy – Qual seria o quadro atual da pandemia na Romênia?
A Romênia está, neste momento, no período da contenção da propagação da doença. Aparentemente não chegam ultrapassar o pico do contagio, mas já aprecem bons sinais. No dia 03 de maio de 2020, há 13.163 casos confirmados, 4.869 recuperados e, lamentavelmente, 780 mortes.
Embassy – Quais são as principais mediadas adotadas pelo governo para conter essa epidemia?
O Governo tomou medidas fortes para implementar o distanciamento social, limitando por lei especial o deslocamento da população. Por exemplo, não podes deslocar sem ter uma declaração sobre a imprescindibilidade da saída da casa (motivos de trabalho, saúde, etc.), sob pena de multas bastante elevadas. O nível de isolamento não é igual em todas as regiões do país, mas, sim, conforme o número de casos registados. Para os idosos, acima dos 65 anos, as saídas para compras, por exemplo, só podem acontecer durante algumas horas por dia, em certo intervalo horário, para a sua própria proteção.
Embassy – O Governo está conseguindo dar atendimento à população? Os hospitais estão preparados? Como estão as condições do sistema de saúde pública na Romênia?
Até o momento não se notaram dificuldades maiores para assegurar o atendimento à população. O sistema de saúde funciona geralmente bem. Há casos em que, mais por motivos subjetivos do que objetivos, o nível de preparação de várias unidades sanitárias foi diferente. Mais por decisões atrasadas dos gerentes do que por crise de abastecimento.
Embassy – Medidas severas àqueles que violarem as regras para evitar o contágio pelo novo coronavírus estão sendo tomadas no país, incluindo prisão. Como será a fiscalização do governo?
A polícia nacional tem o papel de controle. Pode ser que tenha havido alguns exageros na ação da mesma, eliminadas o mais rapidamente possível, por regras ainda mais claras da definição das contravenções. Evidentemente, estas medidas restritivas não são sempre bem recebidas, mas a grande maioria da população percebe a necessidade das mesmas. Isso deu, até agora, resultados positivos.
Embassy – Durante a pandemia, centenas de milhares de cidadãos romenos decidiram voltar a casa, segundo a imprensa, mas viram-se barricados no próprio país. Muitos destes cidadãos fazem parte da comunidade cigana e reuniram-se, principalmente, em comunidades mais pobres. Como essas pessoas estão sendo atendidas?
Não tenho os números oficiais dos que regressaram para o país, mas duvido que se tratasse mesmo de centenas de milhares. Também não acho que existe uma estatística “por comunidades”. Antes de tudo porque não há nenhuma diferença de atendimento para qualquer cidadão da Romênia.
Embassy – Qual o setor da economia da Romênia está sendo mais afetado e que tipo de incentivo o governo está oferecendo para pequenos e médios empresários enfrentarem esta crise?
Todos os setores da economia serão afetados. Antes de tudo o setor produtivo. O governo está na fase de definir exatamente o tipo de ajuda, por vários setores, conforme as necessidades. Isso também porque os efeitos, claramente negativos, estão num momento de difícil avaliação. Conforme as evoluções, medidas de apoio já tomadas deveriam ser afinadas de acordo com o andar da situação. Trata-se de apoio financeiro direto, de criação dum sistema de facilidades bancarias e impositivas e outras. Também se pensa em incentivos para as empresas que vão manter o pessoal ou até para os que vão empregar novo quadro neste período e no imediatamente seguinte.
Embassy – As eleições parlamentares na Romênia estão planejadas para o final de novembro ou início de dezembro. Elas irão realmente acontecer?
Ainda não existe uma decisão definitiva. Conforme a lei há uma certa facilidade: as eleições têm que ser organizadas depois de 06 de setembro de 2020, mas não mais tarde que 21 de março de 2021. Como em muitas das coisas que passam agora, a decisão terá que ter em conta a evolução da pandemia.
Embassy – O Brasil acaba de prorrogar a restrição da entrada, por via aérea, de estrangeiros no país pelo prazo de 30 dias. Isso, de algum modo, afeta as relações comerciais com a Romênia?
As restrições não dizem respeito a todos os cidadãos. Por exemplo, podem entrar as pessoas em missões oficiais. Também não há restrições sobre os voos de carga. Podemos dizer que o eventual retrocesso no comercio bilateral não teria por causa estas restrições, mas sim a crise econômica geral causada pela epidemia.
Embassy – Quais são as perspectivas do senhor em ao futuro?
É inegável que vamos passar uns tempos bastante difíceis, uma crise econômica que vai gerar desafios sociais importantes. Em minha opinião, tal como na luta contra a pandemia, a única possibilidade de lidar de maneira eficiente com estas dificuldades será a cooperação, como resultado da solidariedade global. Nenhum país do mundo poderá lidar isolado, só com recursos próprios, com esta crise. Esta solidariedade mundial pode ser também uma resposta ao nível humanitário para comemorar as vítimas da pandemia, para ultrapassar, também ao nível espiritual, uma tragédia humana irrecuperável. A economia vai levar algum tempo para regressar ao normal, mas isto vai acontecer. As feridas causadas pelas mortes ficarão sempre conosco. A compaixão e capaz de criar esta solidariedade que poderia ir além do interesse comum.