Segundo a Jacobin, Araújo uniu o combate ao comunismo e a postura “antiglobalista” com o comprometimento incondicional com os Estados Unidos, que mudou a forma como se fazia diplomacia no Brasil
Por Opera Mundi
Indicado por Olavo de Carvalho para assumir a chancelaria brasileira, as práticas e pensamentos do ministro das Relações Exteriores do governo Bolsonaro, Ernesto Araújo, marcam uma ruptura no histórico da diplomacia brasileira, além de possuir contradições e serem conduzidas por teorias da conspiração. É o que diz uma reportagem publicada nesta segunda-feira (26) pela revista norte-americana Jacobin, que expõe os problemas lógicos das crenças de Araújo, além de classificar o ministro como “o pior diplomata do mundo”.
De acordo com a revista, o chanceler brasileiro é “um ávido discípulo de Olavo de Carvalho, o pseudointelectual, guru da extrema direita do Brasil, que veiculou por décadas as conspirações que ajudaram na ascensão de Bolsonaro”.
Araújo é um defensor das ideias do escritor, como uma “definição elástica de comunismo” e um pânico do “marxismo cultural”, uma teoria da conspiração que sugere que líderes da esquerda possuem controle sobre “todos os aspectos do pensamento na sociedade moderna”.
A Jacobin, que tem linha editorial à esquerda, ainda aponta para as palavras do ministro a respeito de Carvalho, elogiando o escritor por ter sido “a primeira pessoa do mundo […] a usar a palavra ‘comunismo’ para descrever a estratégia do PT”, enquanto o mundo todo pensava que isso “havia morrido com a União Soviética”.
Segundo o periódico, Araújo uniu o combate ao comunismo e a postura “antiglobalista” com o comprometimento incondicional com os Estados Unidos, em uma “onda transnacional reacionária” que mudou a forma como se fazia diplomacia no Brasil.
Por apostar em uma parceria exclusiva com os EUA e desconsiderar outros parceiros comerciais importantes para o Brasil, como Rússia e China, o chanceler brasileiro recebeu críticas da revista neoliberal The Economist e do jornal New York Times.
“O que ele irá fazer, por exemplo, se Trump não se reeleger em 2020? As relações que o Brasil rejeita hoje poderiam facilmente transformar o país em um pária amanhã”, afirma a reportagem da Jacobin.
Além disso, destaca o periódico, “Araújo pode ver uma luta civilizacional compartilhada que coloca o Brasil ao lado dos Estados Unidos, mas os presidentes americanos nunca trataram a maior nação da América Latina como um parceiro igual”.
Diplomacia do PT
A revista norte-americana ainda aponta para as inúmeras rupturas que a nomeação da Araújo para o Ministério de Relações Exteriores do Brasil causou. Para tanto, destaca a posição de destaque que o país assumiu perante o mundo durante os anos em que o Partido dos Trabalhadores (PT) esteve no poder (2003-2016).
“Começando sob a administração de Lula, Brasil assumiu um papel proativo nos assuntos globais, rompendo com a austeridade do neoliberalismo das décadas passadas”, afirma a reportagem.
Jacobin também aponta para o fortalecimento das relações Sul-Sul pelos governos progressistas da América Latina como o de Lula, no Brasil, e Néstor Kirchner, na Argentina.
“O governo Lula, com o aliado chave na Argentina de Néstor Kirchner, […] trabalhou para fortalecer o Mercosul”, ao invés de apenas aceitar as propostas de Washington para, por exemplo, a criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Segundo a revista, avanços como o fortalecimento de relações políticas brasileiras no continente africano, na América Latina e, na área econômica, a criação dos Brics, estão agora longe do escopo de Araújo e sua política de alinhamento aos EUA.
“As tendências ideológicas pessoais de Araújo são bizarras. É evidente que sua tendência ideológica parece ter sido o que lhe deu o emprego. O maluco, em suma, foi promovido precisamente por ser um maluco”, diz a revista.