A safra da laranja no Brasil, maior produtor e exportador do suco da fruta no mundo, sofreu uma queda histórica, a maior em 28 anos. Apenas de 2015 para 2016 houve uma redução de 18,6% na colheita, o que deve afetar o mercado mundial de suco de laranja, já que o Brasil sozinho é responsável por 80% da produção do planeta. O motivo do mau resultado é, principalmente, a grave seca que atingiu o chamado “cinturão citrícola” brasileiro, localizado no estado de São Paulo e que conta com 350 municípios.
“É uma situação crítica. A estimativa desta safra no cinturão cintrícola foi de 244 milhões de caixas de laranja, de 44,8 quilos cada contra 300 milhões da safra 2015-2016. Se compararmos com a safra de quatro anos atrás, a maior em 20 anos, a diferença ainda é mais acentuada: foram 428 milhões de caixas. Então a gente tem tido reduções seguidas, basicamente por conta do clima”, avalia Ibiapaba Netto, diretor-executivo da Associação Nacional de Exportadores de Sucos Cítricos.
Ele lembra ainda que uma parte pequena da queda também pode ser atribuída à troca da cultura da laranja pela cana de açúcar por parte de alguns produtores. Na França, a União Nacional dos Importadores de Sucos de Frutas afirmou à agência France Presse que tem receio de não conseguir suprir a necessidade do mercado local por conta da situação brasileira.
“Realmente é fundamentada essa preocupação com o abastecimento global. Apesar de que a safra termina oficialmente em julho de 2017, já sabemos que que a redução vai ser bastante acentuada, com os estoques provavelmente próximos a zero. Vai ficar em um nível considerado bem baixo para a média histórica. Mesmo com a previsão de recuperação em 2017-2018, ela pode não ser suficiente para recuperar os estoques”, explica Fernanda Geraldini, analista de mercado do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Universidade de São Paulo, em Piracicaba.
Aumento do preço – A baixa oferta também levou ao aumento do preço da caixa de laranja destinada à indústria, que passou de US$ 1,14 em julho 2015 para US$ 4,39 em 2016. Ao mesmo tempo em que pode beneficiar os produtores, esse aumento também pode afetar as exportações.
“Toda alta de preço tem o potencial de impacto no consumo. Mas isso vai depender dos outros elos da cadeia. Nós estamos na ponta, porque temos a produção e o processamento da laranja. Depois há o engarrafador europeu que é dono das marcas e, então, o varejo. Então é difícil saber como eles estão lidando com essa margem, se houve uma absorção da eventual alta”, diz Netto.
Mas, apesar do grave cenário, as perspectivas para a próxima safra são positivas. “Não houve neste ano nenhum fenômeno climático que tenha tido grande impacto sobre a safra. Não estamos esperando uma supersafra nem uma tão pequena quanto esta”, projeta o diretor-executivo da Associação Nacional de Exportadores de Sucos Cítricos, lembrando que agricultura não é uma ciência exata. Porém, para piorar a situação atual, outro grande produtor, os Estados Unidos, também teve a safra afetada, nesse caso por uma praga na Flórida.