O presidente russo, Vladimir Putin, e seu anfitrião, o francês Emmanuel Macron, multiplicaram nesta segunda-feira (19) os sinais de boa vontade para distender as relações entre Rússia e Europa, sobretudo, no caso da Ucrânia, mas mantêm suas divergências sobre Síria e direitos humanos.
Macron recebeu Putin em sua residência de veraneio em Brégançon, no sul da França, antes de presidir a cúpula do G7 no fim de semana. Desde a anexação da Crimeia, em 2014, a Rússia (G8) deixou de ser convidada para os encontros das economias mais industrializadas do mundo.
Na reunião bilateral, o presidente francês anunciou uma cúpula a quatro partes, entre França, Rússia, Alemanha e Ucrânia, “nas próximas semanas”, para tratar desse conflito que envenena as relações entre Moscou e Europa.
“As escolhas do presidente (ucraniano, Volodymyr) Zelensky são uma verdadeira virada para a situação” e “vamos considerar a oportunidade – que é minha vontade – de uma nova cúpula no ‘formato Normandia’ (com os quatro países citados acima) nas próximas semanas”, declarou.
Sobre o tema e sobre sua disponibilidade de tratar desta questão, Putin demonstrou um “otimismo prudente”.
“Vou falar (com Emmanuel Macron) dos meus contatos com o novo presidente ucraniano. Há coisas que são dignas de discussões e provocam um otimismo prudente”, respondeu.
O presidente francês defendeu uma aproximação entre União Europeia e Rússia, uma relação complicada, pedindo que se tenha “confiança” em uma ordem internacional em “recomposição”.
“Apesar dos mal-entendidos das últimas décadas”, a Rússia “é europeia”, e “temos de reinventar uma arquitetura de segurança e de confiança entre a União Europeia e a Rússia”, insistiu, evocando uma Europa “de Lisboa a Vladivostok”.
Gesto simbólico, Macron também anunciou que irá a Moscou em maio de 2020 para participar das celebrações pelo 75º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista.
“Estarei na Rússia ao lado do presidente Putin” para este evento, declarou Macron, ao receber o colega russo em sua residência de veraneio no sudeste da França.
“Agradeço” a Emmanuel Macron por aceitar o convite, afirmou Putin.
Desde a anexação da Crimeia por parte da Rússia, em 2014, os países ocidentais passaram a boicotar essas cerimônias organizadas por Moscou.
Síria e direitos humanos
Os dois presidentes não esconderam suas divergências em relação à Síria, onde a Rússia apoia militarmente o presidente Bashar al-Assad em sua tentativa de reconquistar territórios controlados por rebeldes moderados e por islamistas desde o início da guerra civil, em 2011.
Macron pediu ao governo Assad e a Putin que respeitem o cessar-fogo na província de Idlib, no noroeste do país. A região é alvo de bombardeios aéreos quase diários. Agora, após três meses de intensos combates, as forças do governo começam a avançar em Idlib.
“É imperioso que o cessar-fogo decidido e firmado em Sochi (na Rússia) seja realmente respeitado”, declarou Macron.
Já o presidente Putin afirmou que a Rússia “apoia o Exército sírio para eliminar as ameaças terroristas em Idlib”.
Questionado sobre a repressão das manifestações em favor da democracia na Rússia, nas últimas semanas, Putin apontou a violência dos protestos envolvendo os “coletes amarelos” na França.
“Não queremos uma situação similar”, afirmou, garantindo que as autoridades russas vão agir para que as manifestações permaneçam no “âmbito da lei”.