São Paulo – Obras da literatura mundial estão sendo traduzidas ao português e disponibilizadas gratuitamente na internet. O projeto Literatura Livre publicou neste mês o livro ‘Os Miseráveis’, de Aljâhiz. A obra árabe foi traduzida por Safa Jubran, professora de Língua e Literatura Árabe do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). A iniciativa é do Serviço Social do Comércio (Sesc-SP) e o Instituto Mojo de Comunicação Intercultural. Na imagem acima, uma das ilustrações do livro.
As obras estão disponíveis em formato digital para download gratuito no site do projeto. A parceria já deu origem a 11 textos, em domínio público, oriundos de povos que, no entendimento dos idealizadores, participam da formação da cultura brasileira. Alguns títulos permaneciam inéditos e todos foram publicados em edição bilíngues, reunindo tradução e versão no idioma original.
Todas as traduções foram feitas por docentes da USP. As outras duas obras lançadas recentemente são Crônicas do Japão, do Príncipe Toneri e Ō-no-Yassumaro, e O Leviatã Joseph Roth.
Os Miseráveis – A obra ‘Os miseráveis’ (Kitâb albukhalâ’, em árabe) traz uma coletânea de histórias sobre pessoas mesquinhas, gananciosas e avarentas. Algumas testemunhadas pelo próprio Aljâhiz, outras que vieram parar em seus ouvidos através de sua teia de relações. Considerada uma das obras mais importantes do patrimônio cultural árabe, o texto foi escrito em 868.
O autor do livro, o iraquiano Abu-Uthmân Amr bin-Bahr Alkinâni, é mais conhecido pelo apelido de Aljâhiz, atrabuído aos seus olhos esbugalhados. O escritor também se destacou com títulos como o Livro dos Animais (Kitâb alhayawân, em árabe) quando lançou a zoologia escrita em árabe e com o Livro da Eloquência e da Oratória (Kitâb albayân wat-tabyîn, em árabe), onde traçou os alicerces da retórica árabe e da filosofia da linguagem.
Para a tradução ao português, Jubran selecionou, traduziu e adaptou algumas das narrativas que compõem esse clássico do árabe do medievo. “Cada uma das anedotas ou das histórias traduzidas foi elaborada a partir de um texto ‘resultante’ de um cotejo com várias edições árabes existentes do texto, inclusive esta que consta desta edição, que já é uma versão ‘simplificada’ do original”, explicou Jubran ao Jornal da USP sobre o texto em árabe que acompanha a tradução.
Para tornar a linguagem mais assimilável e o conteúdo das narrativas mais acessível, as adaptações buscam, ainda, não dissipar o ambiente histórico da criação do século 9. Jubran lembra que algumas anedotas do autor apareceram em obras traduzidas antes, mas de maneira simplificada, como em As Mais Belas Páginas da Literatura Árabe, de Mansour Challita, e quatro foram traduzidas pelo também professor da FFLCH Mamede Jarouche em Histórias para Ler sem Pressa.