Antes do desastre no Parlamento, com a diferença de 230 votos entre os que apoiaram e rejeitaram seu acordo com a UE, May garantiu que não renunciaria. Seu capital político, no entanto, diminuiu consideravelmente
Por Sandra Cohen, jornalista especializada em assuntos internacionais
O governo liderado pela premiê Theresa May sofreu a maior derrota já vista no Parlamento britânico e arrisca-se, menos de 24 horas depois, a uma nova humilhação. Logo após a votação do acordo de saída do Reino Unido da União Europeia, o líder trabalhista, Jeremy Corbyn, acenou com uma moção de desconfiança do governo, que será debatida e votada na sessão desta quarta-feira (16).
Para cada fracasso, Theresa May tem demonstrado resiliência. Normalmente, um premiê não sobrevive a uma derrota por mais de 100 votos. Mas a aprovação do Brexit, em 2016, promoveu novos parâmetros. O foco principal de seu governo tem sido o manejo deste conturbado divórcio.
Antes do desastre desta terça-feira no Parlamento, com a diferença de 230 votos entre os que apoiaram e rejeitaram seu acordo com a UE, May garantira a seus ministros que não renunciaria, qualquer que fosse a margem. Seu capital político, no entanto, diminuiu consideravelmente — frente ao Partido Conservador, à oposição e à União Europeia.
Dos 432 deputados que votaram contra o acordo, 118 eram conservadores, ou seja, mais de um terço da legenda se insurgiu mais uma vez contra o governo de May. Se a moção de desconfiança for aprovada, ela terá duas semanas para reverter o quadro e tentar obter apoio para se manter no cargo. Do contrário, novas eleições serão convocadas.
Um dos partidos que sustentam a coalizão do governo, o DUP, da Irlanda do Norte, que nesta terça-feira, votou contra o acordo do Brexit, já sinalizou que apoiará o governo em uma eventual moção de desconfiança.Analistas acreditam que May novamente sobreviverá, mas a sua fragilidade é indiscutível. E, seja qual for o destino da premiê, o Brexit segue sem acordo, sem Plano B e totalmente sem rumo.