“O país precisa pensar no que fazer para corrigir o problema e para evitar que novas pessoas caiam na pobreza”, afirma coordenadora.
| Oda Paula Fernandes
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) apresentou mundialmente nesta terça-feira (21), em Brasília, o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) de 2016. O Brasil aparece como o 10º pior país do mundo em termos de desigualdade de renda. Além da atualização anual do IDH do Brasil e de outros 187 países e territórios, o documento destaca os principais grupos sociais excluídos do desenvolvimento humano no mundo.
Nos últimos 25 anos houve uma redução de 35% para 11% da extrema pobreza, mas o planeta ainda tem 766 milhões de pessoas vivendo com menos de 1,90 dólares por dia. Dados estatísticos referentes a 2015 apontam que 46% da riqueza mundial está concentrada nas mãos de 1% da população mais rica do globo.
O Brasil é um dos países mais citados no relatório global que mapeia a natureza e a localização das privações. “O progresso do desenvolvimento humano nos últimos 25 anos tem sido impressionante em muitas frentes. Mas os ganhos não foram universais. Há desequilíbrios entre os países; grupos socioeconômicos, étnicos e raciais; áreas urbanas e rurais e entre mulheres e homens”, consta no relatório.
No Distrito Federal (DF), moradores da favela da Estrutural vivem com um lixão, sem saneamento e baixos níveis de renda, entre outras afrontas a dignidade humana. Essas desigualdades étnicas, sociais e de gênero continuam sendo alguns dos maiores entraves ao desenvolvimento da humanidade. “Isso acontece porque muitos grupos têm sido excluídos historicamente dos resultados positivos do desenvolvimento”, ressaltou Niky Fabiancic, representante residente do PNUD no Brasil, durante entrevista coletiva concedida à imprensa nesta terça (21) em Brasília.
Para ele, habitantes das zonas rurais, mulheres, migrantes, população LGBTI, minorias étnicas e refugiados figuram entre os grupos mais vulneráveis, que sofrem em maior proporção com as crises mundiais. “Os indígenas, por exemplo, representam apenas 5% da população do globo, mas correspondem a 15% das pessoas que vivem na pobreza”, contabiliza Fabiancic.
Baseada na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável – relacionado ao conceito de a geração atual satisfazer suas necessidades sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas – que trata de compromissos assumidos pelos Estados-membros da ONU em 2015 e traça 17 objetivos a serem perseguidos pelos países, o relatório do PNUD destaca: erradicação da pobreza; educação de qualidade; igualdade de gênero; trabalho decente e crescimento econômico; cidades e comunidades sustentáveis; paz, justiça e instituições eficazes.
Brasil – A coordenadora do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) nacional, Andrea Bolzon, frizou que em 2015 o Brasil apresentou mais de 12 milhões de desempregados. “O país precisa pensar no que fazer para corrigir o problema e para evitar que novas pessoas caiam na pobreza. Nós olhamos esse dado com muita preocupação porque no processo de desenvolvimento ninguém pode ser deixado para trás, pois é isso que gera a população excluída”, disse Bolzon.
O IDH toma como base de referência os dados de saúde, conhecimento e padrão de vida da população. O relatório assenta que entre 2003 e 2010 29 milhões de pessoas saíram da pobreza. No entanto, entre 2014 e 2015 4 milhões de pessoas ingressaram nessa faixa. Em 2015, Brasil, Argentina, Chile, Bolívia e México mais 12 países estagnaram, enquanto 159 países subiram de posição e 13 caíram. Dos 188 países, o Brasil permanece na 79ª posição no ranking, com índice de 0,754.
Países latinos – O Brasil, ao lado de Equador, apresentou o maior crescimento de IDH na América do Sul entre os anos de 2010 e 2015. Saltou sete posições no ranking nesse intervalo de tempo. Considerando o período entre 1990 e 2015, o crescimento percentual do país no IDH foi de 23,4%. “É um dado expressivo e está relacionado ao aumento da expectativa de vida, dos anos de estudo, da média dos anos de estudo e ainda da renda nacional bruta per capita apresentada pelo país”, explica Bolzon.
Porém, no quesito desigualdade o Brasil cai 19 posições, perdendo cerca de 25% da nota, por conta dos índices de saúde, educação e renda. Apesar disso, o relatório ressalta pontos positivos no panorama brasileiro. A Lei Maria da Penha e a importância do ciberativismo, por exemplo, foram considerados como boa prática relacionada ao empoderamento das mulheres e do povo brasileiro respectivamente.
Equidade de gênero – no âmbito global, o recorte de gênero é uma das grandes preocupações do PNUD. As mulheres ainda ganham, em média, 24% menos que os homens nos postos de trabalho remunerados e ocupam apenas 24% dos cargos de chefia. Essa desigualdade está representada no Parlamento, com apenas 22% de mulheres, reapresenta predominância masculina. “Não adianta falar em desenvolvimento sustentável se metade da humanidade for ignorada. A desigualdade de gênero é um grande desafio ao progresso global, e isso se dá em todas as regiões”, afirmou Andrea Bolzon.