Após investigar a invasão de quarta-feira passada no Congresso dos Estados Unidos, o Pentágono “está informado de mais ameaças possíveis por parte de potenciais terroristas” nos próximos dias, inclusive em 20 de janeiro, data da posse de Joe Biden como presidente. Assim revelou o secretário do Exército, Ryan McCarthy, ao deputado Jason Crow em uma conversa telefônica cuja transcrição foi divulgada pelo congressista democrata, membro do Comitê de Serviços Armados da Câmara de Representantes. McCarthy lhe informou também que pelo menos 25 processos por terrorismo nacional foram abertos em decorrência da investigação.
McCarthy informou ao deputado que as forças de segurança apreenderam armas de fogo, coquetéis molotov, artefatos explosivos e algemas de plástico nos arredores do Capitólio, “o que indica que se evitou por pouco um desastre maior”. O congressista manifestou ao secretário a sua “profunda preocupação” com informações segundo as quais “membros do Exército na ativa e na reserva estiveram implicados na insurreição”.
A possibilidade de um segundo ataque também foi mencionada na sexta-feira pelo Twitter, no comunicado em que anunciava a suspensão da conta do presidente Donald Trump. “Já começaram a proliferar dentro e fora do Twitter planos para futuros protestos armados, incluindo a proposta de um segundo ataque ao Capitólio dos Estados Unidos e aos Capitólios estaduais em 17 de janeiro”, diz a nota. A empresa considerou que dois tuítes de Trump na sexta-feira justificaram a “suspensão permanente” de sua conta, embora o teor não fosse explícito em sua incitação à violência. “Eles podem inspirar outros a replicarem os atos violentos que ocorreram em 6 de janeiro”, disse a rede social.
O planejamento do ataque de quarta-feira se desenrolou abertamente nas redes sociais, com conversas explícitas em fóruns de extrema direita sobre como invadir o Capitólio, por exemplo, e algemar os congressistas com rédeas para impedir a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden. Nos mesmos fóruns falava-se também durante semanas em organizar protestos maciços que culminassem na chamada Marcha do Milhão de Soldados, também em 20 de janeiro, na esplanada do Capitólio onde tomarão posse o presidente Joe Biden e sua vice, Kamala Harris.
Os democratas decidiram iniciar um processo de impeachment (julgamento político) para a destituição de Trump se seu vice, Mike Pence, não concordar em evocar a 25ª emenda constitucional, que permite destituir o presidente com o aval da maioria do gabinete, por causa da invasão ao Congresso estimulada pelo republicano. A presidenta da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, anunciou no domingo que nesta segunda será apresentada uma resolução nesta linha, com um prazo de 24 horas para que Pence responda. Em uma carta demolidora, remetida aos legisladores do seu partido, Pelosi afirma: “A fim de protegermos nossa Constituição e nossa democracia, atuaremos com urgência, já que este presidente representa um risco iminente para ambas”.
Seria a primeira vez na história que um mesmo presidente é submetido a um segundo processo impeachment, um procedimento extraordinário, previsto na Constituição para poder julgar e afastar um presidente em caso de traição, suborno ou crimes graves. Em apenas três ocasiões na história a Câmara aprovou um pedido desses, sendo a última no ano passado, contra Trump ― que no entanto acabou salvo no Senado.
Pelosi diz na carta que o ainda presidente é um perigo que permanece ativo e, portanto, não pode continuar na Casa Branca até 20 de janeiro. “O horror do vigente assalto à nossa democracia por parte deste presidente se intensificou e, portanto, também a necessidade de ação”, diz.
A resolução insiste a Pence e ao Gabinete para que evoquem a 25ª Emenda da Constituição, declarando Trump como incapaz de continuar exercendo o cargo, depois do que o vice-presidente assumiria a presidência dos Estados Unidos durante os dias que restam até o próximo mandato. “Apelamos ao vice-presidente para que responda em 24 horas. Depois, procedemos a apresentar a legislação para um impeachment”, afirma a presidenta da Câmara.
Embora Trump se encontre mais isolado do que nunca pelos cardeais Republicanos, e muitos que o apoiavam até 6 de janeiro tenham rompido com ele depois da violência no Capitólio, votar a deposição de um presidente do seu próprio partido quando lhe restam apenas 10 dias no cargo não é uma ideia muito popular.