O parlamento da Líbia sediado em Tobruk (leste) nomeou hoje o ex-ministro do Interior Fathi Bachagha para substituir Abdelhamid Dbeibah como primeiro-ministro, numa votação controversa que pode exacerbar as lutas pelo poder na Líbia.
O país do Norte de África encontra-se agora com dois primeiros-ministros, dado que nas últimas semanas, Dbeibah, que está na capital, Tripoli, deixou claro que só entregaria o poder a um governo que saísse das urnas. “O parlamento votou de forma unânime para dar confiança a Fathi Bachagha como chefe do governo”, disse o porta-voz parlamentar Abdallah Bliheq, no final da sessão parlamentar.
O parlamento tinha selecionado, após candidaturas, dois pretendentes de um total de sete: Bachagha, de 59 anos, e Khaled Al-Bibass, de 51 anos, um antigo alto funcionário do mesmo ministério. Antes da votação, o presidente do parlamento Aguila Saleh, um dos principais opositores ao governo de Dbeibah, disse que Bibass havia retirado a sua candidatura, deixando Bachagha sozinho na corrida.
A sessão estava a ser transmitida em direto antes de ser interrompida durante a votação. Citado pelos meios de comunicação líbios, Bibass negou ter retirado a sua candidatura. Bachagha e Dbeibah, ambos da zona oeste do país, contam com o apoio de grupos armados na Tripolitânia. Os dois políticos rivais foram também candidatos às eleições presidenciais que estiveram marcadas para dezembro, antes de serem adiadas indefinidamente.
“Não aceitarei qualquer nova fase de transição ou autoridade paralela”, alertou o Dbeibah, num discurso televisivo na terça-feira, acrescentando que o seu governo interino apenas entregará o poder a “um governo eleito”. A Líbia mergulhou no caos depois da queda do regime de Muammar Kadhafi em 2011.
Após anos de conflito armado e divisões entre o leste e o oeste, o governo de Dbeibah foi criado há um ano, sob a égide das Nações Unidas, para liderar a transição até uma dupla eleição presidencial e legislativa, marcada inicialmente para 24 de dezembro.
As eleições deveriam ser o culminar da interminável transição pós-Kadhafi, mas foram adiadas num cenário de desacordos entre as potências do leste, personificadas pelo parlamento e o pelo marechal Khalifa Haftar, e as do oeste, centradas no governo de Dbeibah e no Alto Conselho do Estado, que atua como um Senado.
O parlamento, sediado em Tobruk, considera que o mandato do Executivo expirou com o adiamento das eleições, mas o governo assegura que a sua missão deve durar até à nomeação de um governo que saia das urnas.
Hoje, Abdelhamid Dbeibah sofreu uma tentativa de assassínio quando estava no interior de um veículo a caminho de casa, em Tripoli, revelou uma fonte próxima do político ao jornal The Libya Observer.
De acordo com a fonte, que preferiu não ser identificada, Dbeibah, que viajava no veículo como passageiro, escapou ileso do ataque e os agressores fugiram após terem efetuado vários disparos contra a janela do carro.A Procuradoria-Geral líbia anunciou, entretanto, a abertura de uma investigação para esclarecer o caso.