Diante desta situação, Taiwan pode ser um exemplo internacional no combate contra a pandemia — ou poderia, se a OMS continuar omitindo o país por motivos políticos.
Nesta segunda-feira (16), o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse: “Neste momento, estamos extremamente preocupados com a disparada de casos de COVID-19 em alguns países, particularmente na Europa e nas Américas”. De acordo com a Universidade Johns Hopkins, o mundo registrou o recorde diário de 11.115 mortes provocadas pelo coronavírus nesta terça-feira (17).
Para tentar conter o avanço da pandemia, diversos países europeus voltaram a adotar lockdowns e outras medidas. Na Itália, o governo decretou um toque de recolher. Desde outubro, a França e Alemanha estão em quarentena obrigatória e com restrições para evitar aglomerações. Outros países também estudam endurecer suas ações contra a disseminação do coronavírus.
Nesta quarta-feira (18), os Estados Unidos superaram a marca dos 250 mil mortos por COVID-19, com 1.707 novos óbitos registrados nas últimas 24 horas. Nesta situação, o prefeito de Nova York determinou o fechamento das escolas públicas na cidade. Além disso, outros estados americanos já analisam retomar restrições.
O crescimento de casos na pandemia, mesmo após longos meses de quarentena, pressiona os governos e organizações internacionais por novas medidas eficientes. Na contramão da grave realidade de muitos países, Taiwan continua sendo o país mais bem sucedido contra o coronavírus. Apesar disso, a OMS se recusa a reconhecê-lo como exemplo.
Para Tsung-Che Chang, representante do Escritório Econômico e Cultural de Taipei no Brasil e embaixador de Taiwan, em entrevista concedida ao Insurgere, a OMS “se afastou da neutralidade e do profissionalismo” ao impedir o país de participar das suas reuniões.
Além disso, o diplomata expressou descontentamento com a tentativa da Organização de “apagar” Taiwan, considerando como parte da China e impossibilitando que as experiências do país pudessem ser compartilhadas com outros países-membros da entidade internacional.
Como Taiwan lidou com a pandemia
Mesmo sendo uma ilha bem próxima da China, Taiwan registra apenas 607 casos e 7 mortes até novembro. De acordo com o governo no final de outubro, o país completou 200 dias sem nenhuma transmissão local. Dos números totais de contágios, cerca de 460 são importados. As autoridades sanitárias contam com tecnologia para rastreio de passageiros e testes.
O plano de contenção foi colocado em prática antes mesmo da China reconhecer que havia um surto em seu país. Em 31 de dezembro do ano passado, agentes de saúde do país notificaram a Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre um caso de pneumonia desconhecida em Wuhan. Mas, naquela época, Taiwan foi ignorado.
Para impedir a entrada de infectados vindos da China, Taiwan começou a cruzar informações ao integrar as bases de dados do banco nacional de seguro de saúde e dados de imigração. Assim, a rapidez na tomada de decisões possibilitou no monitoramento de quem chegava no país.
Por suas medidas sanitárias e estratégias tecnológicas, a ilha não precisou recorrer a decisões draconianas na pandemia, nem mesmo adotar o lockdown. Todo o combate contra a disseminação da COVID-19 foram tomadas de maneira eficiente e transparente, inclusive com bom humor e conscientização popular.
Em Taiwan, as escolas continuam em funcionamento, adotando medidas sanitárias responsáveis para evitar contaminações. Foto: David Chang/EFE.
Nesta quarta-feira (18), o Centro de Comando de Epidemia Central de Taiwan anunciou novas medidas sanitárias, no momento em que a comunidade internacional aumenta sua preocupação com a pandemia. A nova política entrará em vigor em 1 de dezembro e concentrará suas atenções em medidas de quarentena na fronteira, prevenção comunitária de epidemias e resposta médica.
Durante coletiva de imprensa, o Ministro da Saúde e chefe do CECC, Chen Shih-chung, explicou os detalhes do “Projeto de Prevenção de Epidemias de Outono e Inverno”. De dezembro a fevereiro, todos os passageiros, independentemente da nacionalidade, nos aeroportos de Taiwan devem apresentar o exame negativo para COVID-19 três dias antes de seu voo programado para o país.
Também a partir de dezembro, as máscaras serão obrigatórias em oito categorias de locais: em hospitais, transporte público, bares, escolas e universidades, eventos esportivos, locais de lazer, templos e comércio. O ministro alertou para o alto risco de contágios nos lugares citados, mas não decretou nenhuma restrição de movimentação ou quarentena obrigatória.
Mesmo com uma população de 23 milhões de pessoas, apenas 7 pessoas morreram em Taiwan por causa do coronavírus. Comparativamente, a Nova Zelândia tem 4,8 milhões de habitantes e registra 25 mortes e mais de 2 mil casos em decorrência da COVID-19. Já na Austrália, com 25 milhões de pessoas, são 907 mortes e cerca de 27 mil casos. A comparação leva em conta o fato dos três países serem insulares, mas apenas um deles é vizinho do primeiro epicentro da pandemia.
Assim, Taiwan é apontada como um exemplo de sucesso no combate ao coronavírus por sua rápida resposta à pandemia, com rastreio de possíveis contaminados, alto número de testes e uso da tecnologia.