Os livros de história são permeados por anos decisivos para a aventura humana na Terra. Espero que, no futuro, 2021 seja visto como o ano em que enfrentamos as mudanças climáticas de verdade, com ações concretas no mundo real. Isso garantirá não apenas o futuro dos nossos filhos e netos, mas também o nosso.
Há cinco meses, assumi o desafio de liderar interinamente a missão diplomática britânica no Brasil. Inspirada pela frase atribuída a Juscelino Kubitschek, também posso dizer que foram cinco meses que valeram por cinco anos. Construímos novas parcerias com o Brasil e reforçamos os diálogos em diversas áreas, como vacinas, transição energética e inclusão digital. Nos mais de 6 mil quilômetros que percorri no Amazonas, me aprofundei nas complexidades da região. Acredito que precisamos de um esforço contínuo, de longo prazo e transparente para diminuir os alarmantes índices de desmatamento.
Como anfitrião da COP26, o Reino Unido busca liderar pelo exemplo. Em 2019, nos tornamos a primeira grande economia a colocar em lei o compromisso de zerar emissões até 2050. Em dezembro de 2020, anunciamos nossa NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada), nos comprometendo com uma redução de 68% das nossas emissões até 2030, usando como base o ano de 1990. Estas metas são apoiadas por medidas concretas, como o anúncio de dobrar o Financiamento Internacional para o Clima (ICF) para £11,6 bilhões e o fim do apoio ao setor de combustíveis fósseis no exterior.
Acredito que teremos tido sucesso em Glasgow se conseguirmos ressignificar uma expressão que aprendi quando cheguei aqui: não queremos compromissos para inglês ver.
À medida que nos recuperarmos da pandemia, teremos uma escolha a fazer: fechar os olhos ou investir numa retomada econômica verde, resiliente e justa. A boa notícia é que muitos países já estão seguindo esse caminho. No mês passado, Reino Unido, França e ONU, junto com Itália e Chile, realizaram a Cúpula de Ambição Climática. Ao todo, 75 líderes mundiais anunciaram novos compromissos. Nos próximos meses, é esperado que países responsáveis por 65% das emissões globais e 70% das economias mundiais tenham se comprometido a alcançar zero emissões.
Esses anúncios indicam que frear as mudanças do clima é também uma decisão inteligente do ponto de vista econômico. Pesquisas vêm mostrando que uma recuperação verde criará milhões de empregos e impulsionará a economia mundial. O Brasil, aliás, é uma das nações que mais podem se beneficiar desse movimento. E o Reino Unido quer continuar trabalhando com o Brasil para alcançar o compromisso recém-anunciado de zerar emissões até meados do século.
São todos passos na direção correta. Mas, para colocar 2021 na história, precisamos mobilizar mais atores, e rápido, como se o futuro do planeta dependesse de nós. Porque, de fato, depende.
Liz Davidson é embaixadora interina do Reino Unido no Brasil