O Exército colocou nas ruas quase 370 mil homens para acompanhar a votação, quase cinco vezes a quantidade empregada nas eleições de 2013
Notícias ao Minuto Brasil
Um dos principais candidatos a premiê nas eleições desta quarta-feira (25) no Paquistão afirmou que não vai reconhecer o resultado da contagem dos votos após inúmeras denúncias de que observadores eleitorais acreditados teriam sido expulsos das zonas eleitorais pelas forças de segurança.
O Exército colocou nas ruas quase 370 mil homens para acompanhar a votação, quase cinco vezes a quantidade empregada nas eleições de 2013, numa jornada em que atentados contra recintos de votação deixaram mais de 30 mortos.
Shehbaz Sharif, 66, irmão do ex-premiê Nawaz Sharif e candidato pela Liga Muçulmana Paquistão-Nawaz (PML-N, governista), rejeitou a contagem “devido a irregularidades manifestas e maciças”, enquanto os resultados começam a ser contabilizados e não havia um vencedor claro.
“Jamais na minha carreira política havia visto esse tipo de malversação.” Diversas projeções davam maioria ao partido do candidato oposicionista Ihram Khan, o Tehreek-e-Insaf (PTI), com entre 94 e 102 dos 272 assentos. Já o PML-N obteria entre 40 e 58 assentos. São necessários 172 assentos para obter uma maioria.
Pelas projeções, nem o partido de Khan nem o de Sharif conseguiria maioria na Assembleia Nacional. Até as 20h30 (de Brasília), 30% dos votos haviam sido apurados, e a expectativa era que o resultado fosse conhecido nesta quinta-feira (26).
O porta-voz do PTI, Fawad Chaudhry, manifestou confiança nos primeiros números: “Parabéns à nação pelo novo Paquistão! Premiê Imran Khan.” Houve comemoração nas ruas de várias cidades.
O terceiro maior partido, o Partido do Povo do Paquistão (PPP), também reclamou que seus observadores foram expulsos durante a contagem de várias zonas eleitorais. O candidato a premiê pelo PPP é Bilawal Bhutto, filho da ex-premiê Benazir Bhutto, assassinada em 2007. “Este é o sinal de alerta de uma ameaça séria”, afirmou Sherry Rehman, senador pelo PPP. “Essa eleição inteira pode ser declarada anulada, e não queremos isso.”
Ao menos seis partidos, incluindo o extremista Tehreek-e-Labbaik, fizeram reclamações similares. O líder do partido Muttahida Qaumi Movement-Pakistan (MQM-P), Faisal Sabzwari, disse ainda que chefes das zonas eleitorais não estão fornecendo resultados certificados.
A campanha eleitoral foi marcada por acusações de manipulação pela Forças Armadas, por intimidações à imprensa e por uma série de atentados contra candidatos.
“Essa eleição pode ser sumarizada como uma disputa entre ser pró-militares ou anti-militares. Imran Khan claramente se posicionou como líder de torcida dos militares, feliz em receber seu apoio, mesmo quando esse apoio ocorre em detrimento do processo democrático”, disse a analista paquistanesa Samira Shackel. “Por sua vez, Nawaz Sharif e o PML-N posicionaram a campanha inteira como uma luta contra o controle dos militares sobre o Paquistão e uma tentativa de supremacia civil.”
“Não é necessariamente que os militares amem Khan, mas sim que eles odeiam Nawaz Sharif e querem mantê-lo fora do poder de qualquer maneira, por causa de seus esforços para reparar o balanço de poder civil-militar e as relações com a Índia”, disse Shackel.
“O cenário ideal para os militares é um aparato civil fraco que eles possam manipular e comandar. Isso significa que eles devem favorecer uma coalizão frágil, idealmente liderada por alguém disposto a cooperar, como Khan.”
Um atentado a bomba deixou ao menos 31 mortos e 35 feridos em uma zona eleitoral da cidade de Quetta, capital do Baluquistão. Uma testemunha disse ter visto uma moto se dirigir aos eleitores segundos antes da explosão.