O Quênia, país situado no leste da África, é hoje o quinto exportador mundial e o primeiro para a Europa de um produto tão frágil quanto rentável: as rosas.
A exportação das flores atinge atualmente o patamar de 125 mil toneladas por ano, e se configura como a terceira mais importante fonte de divisas do Quênia. Com uma taxa de desemprego que ultrapassa os 40%, o lucro do cultivo de rosas não é negligenciável no país: a floricultura emprega cerca de meio milhão de quenianos. Uma produção massiva, responsável por alimentar cerca de 80% do mercado europeu, mas que traz, enraizada em seu desenvolvimento crescente, problemas importantes do ponto de vista da preservação do Meio Ambiente e de um comércio justo e em sintonia com os direitos dos trabalhadores rurais e a utilização responsável dos recursos hídricos.
Segundo Valéria Rodriguez, porta-voz da ONG Max Havelaar, responsável pela certificação do comércio justo de flores na França, o problema é complexo. “O que acontece é que existe uma procura por preços cada vez mais baixos nos países do Hemisfério Norte, e isso tem um impacto social e ecológico para aqueles que trabalham na África, América do Sul, ou mesmo na Ásia. Do ponto de vista social, esses trabalhadores podem ser confrontados a uma grande instabilidade e precariedade em seu trabalho, ameaçando seus direitos sindicais, e sua luta por condições produtivas mais dignas e de salário, incluindo as condições sanitárias, porque são trabalhadores que são expostos de maneira recorrente a produtos químicos e isso, sem medidas de proteção, pode ser muito perigoso para a saúde deles”, afirmou.
Cultivar rosas pode ser sinônimo de desperdiçar água? Recurso natural fundamental no cultivo das rosas, a água é uma questão central para Rodriguez: “O que seria uma gestão otimizada da água? Poderia ser, por exemplo, uma irrigação ‘gota a gota’, ou a reciclagem de água, ou a reutilização da água da chuva, então existe esta exigência de práticas que utilizem menos água”, declarou. “Com relação ao Quênia, existe a questão do lago Navaisha, sobre o qual falamos com frequência, porque a maior parte das plantações de rosas do país são implantadas em torno desse lago, e em 2009 e 2010 a quantidade de água do local chegou a seu nível mais baixo, onde também foi constatado um alto nível de contaminação”, concluiu Rodriguez.
Para, Jane Ngige, diretora-executiva do Kenya Flower Council (KFC), associação criada em 1996 em Nairobi que reúne mais de cem fazendas produtoras de rosas no Quênia, a conquista da certificação do Global Social Compliance Program, adquirida em fevereiro de 2016 pelos produtores do país, traz garantias para o consumidor europeu que deseja investir em produtos da agricultura sustentável.
“O certificado fala sobre a adoção de novas tecnologias, sobre o monitoramento da extração da água, mas também assegura que exista um acordo coletivo sobre o uso da água do lago Naivasha [uma das principais fontes de água doce no Quênia], e como dissipar essa utilização com a chamada água residual. E esse acordo é feito em um nível comunitário, existe um planejamento que permite que a população local, ao redor do lago, tenha acesso à água, mas que também estabelece quando eles podem fazê-lo, e a quando se deve prestar atenção à quantidade do recurso natural extraído. Quando o alerta sobre os níveis de água se torna crítico, todos são avisados. Existe também um acordo sobre quantas pessoas possuem permissão de usar a água do local, e com que regularidade”, disse Ngige.
Outra mudança trazida pela certificação diz respeito aos pesticidas usados no cultivo de rosas no Quênia. “Em termos de produtos químicos, utilizamos hoje apenas aqueles permitidos e referenciados pela Organização Mundial da Saúde [OMS, WHO na sigla em inglês] e o governo também determina que tipo de produto pode ser utilizado nessa parte do mundo. É um sistema muito controlado, que olha para os produtos usados, para os recursos hídricos e que verifica se as pessoas que estão utilizando estes recursos naturais possuem a capacitação necessária. Monitoramos e documentamos o que é utilizado, e mantemos um registro de como utilizamos estes recursos”, finalizou a diretora-executiva do KFC. Segundo Ngige, uma auditoria é realizada anualmente em todas as quase cem maiores fazendas do país, que conta ainda com cerca de 2 mil pequenos produtores locais.
Fonte: RFI