A ONU evocou a possibilidade de existirem “crimes de guerra” na Etiópia e apelou a uma “investigação independente” sobre os muitos civis alegadamente mortos na região de Tigray, onde o Governo federal lançou uma operação militar.
“Embora os detalhes do alegado ‘massacre’ relatado pela Amnistia Internacional em Mai-Kadra, no sudoeste de Tigray, ainda não tenham sido totalmente verificados”, a Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, apelou a “uma investigação completa”.
“Se se confirmar que foram deliberadamente perpetrados por uma parte dos atuais combatentes, estes assassinatos de civis equivaleriam, naturalmente, a crimes de guerra, e tem de haver uma investigação independente e total responsabilização pelo que aconteceu”, afirmou o gabinete de Michelle Bacheletem comunicado.
“No entanto, a primeira prioridade por agora deve ser parar os combates e impedir que se cometam mais atrocidades”, acrescentou.
Esta é a primeira vez que se regista um grande número de mortes de civis desde que começou o conflito entre o governo do primeiro-ministro Abiy Ahmed e a Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF), o partido no poder na região separatista do norte, que teve início em 4 de novembro.
A Amnistia Internacional disse não ter sido capaz de identificar os responsáveis, mas falou com testemunhas que acreditam que forças leais à TPLF estavam por detrás do “assassínio em massa”.
Em Genebra, Bachelet reiterou o seu apelo de 6 de novembro a ambas as partes, no sentido de iniciarem conversações para uma cessação imediata das hostilidades. “Exorto ambas as partes a perceberem que não haverá vencedor em tal situação e a empenharem-se num diálogo sério para resolverem as suas diferenças sem demora”, sublinhou.
A Alta-Comissária da ONU advertiu que se as forças regionais do Tigray e as forças governamentais etíopes continuarem com os confrontos “há o risco de esta situação poder ficar completamente fora de controlo, levando a pesadas perdas de vidas e destruição, bem como a deslocações em massa, dentro da própria Etiópia e através das fronteiras”.
A responsável das Nações Unidas para os direitos humanos disse que, apesar da quebra nas comunicações com Tigray, que torna difícil verificar a extensão dos danos até à data, recebeu relatórios de várias fontes, referindo um aumento dos ataques aéreos pelas forças governamentais, bem como “fortes combates no terreno” entre forças opostas.
“Estou também extremamente alarmada com as notícias de cortes essenciais de água e eletricidade, para além dos cortes de comunicações e do bloqueio dos acessos rodoviários e aéreos”, acrescentou.