Nos últimos dias, diferentes grupos do setor privado brasileiro buscaram negociações com empresas farmacêuticas ou com laboratórios indianos para garantir um abastecimento que não passe por canais governamentais. Se inicialmente o Palácio do Planalto hesitava em liberar tais iniciativas, o governo de Jair Bolsonaro deixou claro nesta semana que não iria impedir tais acordos.
A busca por parte de grupos privados, porém, é alvo de forte resistência na OMS. A entidade não tem o poder de vetar compras e nem de interferir na forma pela qual um governo libera ou não vendas no mercado. Mas Kate O’Brian, representante da agência para temas relacionados com vacinas, insiste que governos deveriam seguir as recomendações elaboradas por especialistas reunidos pela OMS e que apresentaram propostas sobre como fazer a vacina ser mais eficiente.
A recomendação, costurada ainda no ano passado, sugere que idosos, pessoas com doenças crônicas e trabalhadores do setor de saúde precisam ser os primeiros a receber as doses. “A vacina deve ir onde ela é mais eficiente”, insistiu a representante da agência, ao ser questionada pela coluna.
Espere a sua vez, alerta OMS “Os governos devem olhar e ver como a vacina pode ter mais impacto num primeiro momento”, disse. “Quem não estiver no grupo mais vulneráveis deve esperar sua vez (para ser vacinado)”, alertou. A estratégia estipulada pela OMS não representa uma obrigação aos países, que são soberanos para decidir como usar as doses. Mas o objetivo inicial é o de reduzir o número de mortes e internações, desafogando o sistema de saúde.
Para que isso seja possível, portanto, a orientação é de “seguir a ciência” e focar nos grupos mais atingidos. “Nossa política de propriedades é feita com base em evidências sobre o que seria mais eficiente”, explicou. Segundo ela, a “implosão social” é resultado da gravidade da doença numa parcela específica da população.
Metade do salário por imunização – No início de janeiro, o Instituto Serum, o maior produtor de vacinas do mundo, anunciou que irá oferecer uma das vacinas ao mercado privado indiano, uma vez que a dose seja aprovada pelo governo. Mas o preço será cinco vezes maior e chegará a quase US$ 14 por dose.
Na Índia, porém, 60% da população vive com menos de US$ 3,10 por dia. De acordo com o Banco Mundial, 250 milhões de indianos ainda vivem com menos de US$ 2 por dia. Se essas pessoas não forem atendidas pelo governo, terá de destinar metade de sua renda mensal para garantir as duas doses de proteção. Pela Europa, todas as vacinas têm sido compradas por governos e sua distribuição é gratuita.