A OMS insiste, no entanto, que ainda há como contê-lo. A classificação de uma pandemia significaria que uma transmissão recorrente está ocorrendo em diferentes partes do mundo e de forma simultânea. Na prática, ao anunciar a pandemia, a agência de Saúde indicaria que governos devem trabalhar não mais para apenas conter um caso. Mas atuar para atender uma parcela da população mais ampla.
Estratégias direcionadas apenas para identificar casos e isolar pessoas precisariam ser trocadas para um plano sanitário que pudesse focar em evitar mortes. Uma pandemia significaria que não haveria como mais como mais controlar o vírus, o que é algo que a agência se recusa a aceitar. Michael Ryan, que lidera o trabalho da OMS no caso do coronavírus, admitiu que se essa fosse a situação atingindo influenza, a entidade já teria declarado pandemia.
O temor de Ryan é de que um tal anúncio crie pânico, sem qualquer ação real por parte dos governos. Mas, diante do número cada vez maior de países, a OMS estima que não há mais a necessidade de escolher entre contenção ou mitigação. Para a entidade, o fato de que, em poucos dias, tantos países foram afetados é a prova de que o vírus está “viajando”. A OMS, portanto, aprova a decisão de governos de fechar escolas e suspender atividades públicas. A agência ainda insiste que todos os países precisam estar preparados, sem exceção, e que uma proliferação ainda maior não está excluída.
Até agora, a entidade insistia que a proliferação em grande escala apenas estava sendo registrada em cidades chinesas, com o casos fora do país asiático ainda podendo ser contidos. Isso, em termos técnicos, não representaria uma pandemia e, portanto, a entidade resistia em passar para um nível superior de alerta. Mas, nos últimos dias, a agência com sede em Genebra já vinha alertando que a capacidade de sistemas de saúde em frear o surto estava se esgotando. O risco global foi elevado na semana passada para “muito elevado” e preparações para uma nova fase começaram a ser feitas.
Até a semana passada, a OMS estimava existia uma “janela de oportunidade” para conter o vírus. Mas tal fresta estava “se fechando”. Enquanto Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, fazia o anúncio na sala de operações da entidade, telões pelas paredes mostravam a dimensão do surto pelo mundo. Mais de 110 mil casos confirmados, mais de 3 mil mortes e casos registrados em mais de cem países, um cenário radicalmente diferente do que existia na semana passada. “Que seja uma pandemia ou não, a regra do jogo é claro: não desisti.insistiu Tedros. Para ele, a transmissão ampla do vírus dentro de sociedades está ocorrendo apenas em alguns países.
Do total de casos, mais de 80 mil estão na China e 70% já estão completamente curados. Mas a expansão no número de casos na Itália, Irã e Coreia do Sul transformou a maneira pela qual a OMS reage à situação, além do salto inédito no número de países atingido. Decadência Moral Tedros ainda criticou governos que estejam pressionando para que a OMS lide com a crise como uma pandemia e que passe apenas a falar de mitigação. Segundo ele, isso viria de países que insinuaram que, pelo vírus afetar mais os idosos, os esforços não deveriam ocorrer para contê-lo. “Isso seria uma decadência moral da sociedade. Todos contam, idosos e jovens”, disse. “A taxa de morte é elevada. Mas não precisamos classificar entre jovens e idosos”, completou.