Como é praxe nesse tipo de encontro, no meio da conversa, entreguei-lhe um presente que havia levado do Brasil. Era uma simpática escultura feita por índios de uma tribo do Amazonas. Achei que estaria agradando, ao levar um exemplar tão representativo, embora óbvio, da nossa cultura.
O ministro recebeu o objeto, sorriu, agradeceu e me ofereceu o seu presente que, para minha surpresa, não era exatamente produto da arte e da cultura do país. Ganhei um laptop que, informou o ministro, era igual ao que todos os alunos da escola na Geórgia recebiam. Confesso que fiquei desconcertado ao perceber que, enquanto eu lhe dava de presente um objeto primitivo, a despeito de sua beleza estética, a Geórgia me mostrava seu avanço tecnológico na educação de suas crianças.
Ao longo dos últimos 30 anos, como reitor da Universidade de Brasília, governador do Distrito Federal, ministro da Educação, senador e professor, tenho procurado manter contato bastante próximo com o corpo diplomático em Brasília. A exemplo da circunstância vivenciada na Geórgia, sempre percebi nesses encontros um sentimento de perplexidade dos diplomatas estrangeiros, mesmo aqueles de países menos desenvolvidos que o Brasil, quanto à tragédia da nossa educação.
Em todo esse tempo, além da curiosidade geral que sinto pela cultura, história e economia de lugares que tenho visitado, acima da minha gratidão pelos quatro países onde vivi – França, Equador, Honduras e Estados Unidos – sempre me fascinou ver o que esses povos estão fazendo pela educação.
Tenho um estudo em andamento sobre “o que eles fizeram” e comparo com “o que o Brasil não fez” em matéria de educação. Este é um assunto sobre o qual deveríamos nos aprofundar – o que ainda não fizemos e que é possível começar a fazer, como por exemplo, promover palestras de especialistas estrangeiros sobre as experiências pedagógicas em andamento em muitos países.
Em geral, os especialistas brasileiros têm curiosidade pelo salto dado por países como Coreia do Sul, Cingapura, Finlândia. Mas há boas experiências em muitos outros países. Todos as nações do Golfo Pérsico (que muitos preferem chamar de Golfo Árabe) estão investindo e transformando tanto suas realidades, especialmente no ensino superior, que em breve poderão surpreender o mundo. Tanto quanto o ministro de Educação da Geórgia me surpreendeu naquela visita ao compararmos nossos presentes trocados.