* Wesley S.T Guerra
Durante o século XX, as empresas foram ganhando importância no panorama internacional, ao ponto de se converterem em um novo ator nas relações internacionais. A globalização permitiu o incremento da circulação do capital, assim como o desenvolvimento de uma cadeia produtiva global, gerando padrões e rotinas diferentes dos adotados pelos atores clássicos – os Estados e posteriormente as Organizações Internacionais – inserindo, dessa forma, uma nova dimensão no cenário global, caracterizada pela diplomacia empresarial, embora nem todas as empresas possuam infraestrutura ou capital necessário para atuar no cenário global, sendo este um papel concentrado nas grandes corporações e nas multinacionais.
Apesar dessa concentração, mesmo que uma empresa não esteja participando ativamente no cenário global, todas são igualmente impactadas. Desde a grande até o pequeno produtor, a competitividade internacional está presente no seu dia a dia. Quando um produtor rural participante de uma cooperativa vende seu produto no mercado local, fatores externos moldam sua realidade, seja pela competência de outros produtores internacionais que exportam o mesmo produto a um preço mais competitivo, seja por oscilações do mercado de capitais, ou até mesmo mudanças no marco legislativo em relação a importação de insumos necessários para sua atividade – como podem ser os casos dos fertilizantes –, atendendo as decisões estratégicas da nação ou as movimentações do mercado global.
Desde a grande até o pequeno produtor, a competitividade internacional está presente no seu dia a dia. Sendo assim, as pequenas e médias empresas são duplamente pressionadas, por um lado por não conseguir gerar um grupo de influência grande o bastante para exercer pressão nos formuladores políticos de seus países e, por outro lado, por não conseguir a representatividade internacional necessária para influenciar a dinâmica mundial.
Nesse contexto, a Paradiplomacia surge como uma solução para essas pequenas e médias empresas, já que um dos intuitos dos órgãos paradiplomáticos é justamente fornecer maior representação e competitividade para sua região no contexto internacional.
A Paradiplomacia permite uma maior representatividade das atividades realizadas dentro do território ou estrutura subnacional representada, fortalecendo-se nas características oriundas de cada região e permitindo com que pequenas e médias empresas possam obter maior visibilidade.
Regiões produtoras buscam uma maior participação internacional, defendendo seus interesses e buscando uma redução do impacto das grandes decisões internacionais. Outras buscam promover e procurar oportunidades. Existem associações que reúnem governos subnacionais focados em determinados temas, tais como a “Os 4 motores para Europa: Catalunha, Rhone Alps, Lombardia e Baden” ou a “mercocidades”.
Também existem agências setoriais que atuam em escala internacional, além de diversas representações de governos subnacionais e organismos ligados aos mesmos, tais como: o Governo da Catalunha, o Governo de Quebec, o Governo de Rhone Alps, o Governo de São Paulo, o Governo do Rio de Janeiro etc.
A Paradiplomacia – diferentemente da Diplomacia oficial – permite uma maior flexibilização e agilidade nos processos internacionais e ações focalizadas, formando várias áreas de atuação. Um órgão subnacional pode criar uma agência para a promoção turística de uma determinada região, uma agência setorial para defender os interesses de um ou vários setores, ou um serviço de representação com fins políticos próximos a centros de decisões internacionais, tais como Washington, Londres ou Bruxelas.
Esses Organismos paradiplomáticos também podem auxiliar a empresa em sua internacionalização, através de acordos de cooperação técnica, projetos setoriais, criação de clusters, missões empresariais, rodadas de negócios, realização de eventos, participações em feiras internacionais, dentre várias outras atividades.
A internacionalização das empresas é uma tendência crescente, porém os órgãos diplomáticos oficiais nem sempre estão preparados para atender aquelas de pequeno e médio porte, que precisam passar por todo um processo de aprendizagem para poder atuar no mercado internacional, sendo vital o papel dos organismos paradiplomáticos no processo, já que os mesmos possuem uma proximidade maior com a sua realidade empresarial e, consequentemente, uma maior sinergia com a mesma, além de que sua atuação internacional está focada na cooperação e sinergia entre regiões.
A Paradiplomacia atua então como vetor para a internacionalização de pequenas e média empresas, na medida em que busca incrementar a representatividade e competitividade de uma determinada região no contexto global, sendo também uma forma de atrair investimentos e gerar um aumento da visibilidade da região.
Algumas regiões já possuem representações oficiais no exterior e agências de promoção econômica, como são os casos de Quebec, Flandres e Catalunha. No Brasil, Estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná já possuem agências focadas na atração de investimentos, mas ainda tem muito a ser feito na área de internacionalização de pequenas e médias empresas, sendo o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio a Empresa), juntamente com a APEX (Agência de Promoção Exterior do Brasil), os Órgãos que concentram tal atividade, limitando, assim, a atuação de municípios e, consequentemente, afetando a representatividade internacional e o uso do potencial local de cada região que forma o Brasil.
* Wesley S.T Guerra é formado em Negociações e Marketing Internacional pelo Centro de Promoção Econômica de Barcelona, Bacharel em Administração pela Universidade Católica de Brasília e especialista pós-graduado em Ciências Políticas e Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo – FESPSP, Mestre em Políticas Sociais e Intervenção sociocomunitária com Especialização em Migrações pela Universidad de La Coruña (Espanha). Fundador do CERES – Centro de Estudos das Relações Internacionais e especialista em paradiplomacia do Governo da Catalunha.