Os impactos e as mudanças no setor do Comércio Exterior brasileiro diante do novo Coronavírus estão ligados à crise global instaurada pelas consequências da pandemia, uma vez que nós temos diversos parceiros comerciais espalhados pelo mundo para escoamento das nossas exportações. É primordial que essas economias estejam sólidas e fortes, principalmente, quando falamos da China, que é o nosso principal parceiro comercial e foi onde tudo começou.
O Comércio exterior já sentia os reflexos do vírus quando ele ainda atingia a Ásia Oriental, diferentemente de outros setores da economia brasileira que só estão sentindo esse reflexo agora. O câmbio é um bom exemplo. O reflexo cambial foi sentido antes mesmo da chegada do vírus no Brasil. Nossas exportações e as nossas importações já estavam sendo afetadas pela variação cambial. E, agora, nós temos a moeda americana cotada no patamar de R$ 6,00 – o que é um absurdo – derrubando qualquer planejamento financeiro já feito e qualquer planilha de custo de importação.
A pandemia também fez com que a nossa rotina sofresse alteração, mas como nós trabalhamos via sistemas, por e-mail, a mudança não foi grave. Sofre mais quem está na linha de frente: nos aeroportos e nos portos brasileiros. Esses, que trabalham dia a dia, principalmente, na liberação dos itens ligados ao combate do Covid-19, são os que merecem atenção. O Comércio Exterior no geral consegue fazer home office. A pandemia está deixando um importante legado para desburocratização dos processos de importação e exportação.
Nossa grande preocupação, enquanto setor, é o protecionismo (sistema de proteção da indústria ou do comércio de um país, concretizado em leis que proíbem ou inibem a importação de determinados produtos, por meio da taxação de produtos estrangeiros). O protecionismo já vinha dando as suas caras para grandes economias e causando problemas para a Organização Mundial do Comércio (OMC). É uma linha perigosa, e uma tendência pré-existente à crise global do coronavírus. Agora, parece que está se consolidando ainda mais. O nosso grande embate é contra o protecionismo. Não podemos voltar atrás em tudo o que conquistamos até hoje.
Para além dessa luta, eu acredito em três pilares para o crescimento da economia brasileira em conjunto com o Comércio Exterior brasileiro. O primeiro deles é o agronegócio, que já é um sucesso e faz com que a nossa balança comercial seja superavitária. Porém, é necessário agregar valor ao agronegócio. Precisamos pensar em tecnologia, novos processamentos, para escoar ainda mais e aumentar o número de vendas para o mundo, lembrando que este mundo vai estar em crise e ela é uma grande barreira.
Outro pilar seria o investimento em infraestrutura. Há 15 anos no mercado, eu escuto essas discussões a respeito da infraestrutura logística no nosso país. O Brasil agoniza nesse setor. O terceiro pilar, mas não menos importante, diz respeito à reforma tributária, que não contribuiria somente com o Comércio Exterior, mas com outros setores da economia que estão ligados a ele. A hora da virada de chave é agora.
Se conseguirmos caminhar com esses três pilares, acredito em uma recuperação do Brasil, talvez, até, a médio prazo. Nosso país possui muitas riquezas, nos resta saber trabalhar essas riquezas, para que a gente possa novamente ser uma vitrine para o mundo. Esse deve ser o nosso dever de casa. Existe a necessidade de pensar em abrir novos mercados e não ficar dependendo exclusivamente da China, que nos deu um grande susto com o coronavírus. É preciso fazer a parte diplomática e lembrar que ninguém investe em um país que tem uma política e uma economia completamente instáveis. Para galgar novos investimentos, esse dever de casa deve ser feito.
*Michelle Fernandes é CEO da M2Trade e especialista em Comércio Exterior.
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