Embaixador da Suíça no Brasil, Pietro Lazzeri, destacou o simbolismo do relógio e disse que o processo de restauração durou mais de mil horas de trabalho. O representante diplomático também frisou que seu país está orgulhoso de ter contribuído com o esforço brasileiro de restaurar o patrimônio histórico e artístico.
“São tempos desafiadores e complexos. É fundamental valorizar e cuidar das nossas relações, da nossa amizade, dos direitos humanos e das democracias, que são delicadas e ao mesmo tempo resilientes como esse relógio que volta hoje ao coração do Brasil”, disse Pietro, em cerimônia no Palácio do Planalto nesta quarta (08).
O relógio é uma das obras mais antigas que compõem o acervo da Presidência da República e foi restaurado por meio de um Acordo de Cooperação Técnica com a Embaixada da Suíça. A tradicional empresa familiar suíça de relojoaria Audemars Piguet, criada em 1.875, ofereceu-se para o restauro, arcou com custos técnicos (mão de obra e materiais), assim como transporte e seguro. Portanto, não houve gastos públicos.
O relógio foi trazido ao Brasil em 1808 por Dom João VI. Das várias peças produzidas, apenas dois exemplares resistiram ao tempo. O outro está guardado no Palácio de Versalhes, em Paris. A peça é feita de casco de tartaruga e com um bronze que não é fabricado há dezenas de anos.
“O desafio agora é a manutenção”, diz embaixador da Suíça sobre restauração do relógio.
Ao Correio, o embaixador Pietro Lazzeri explicou o processo de restauração do relógio pertencente a Dom João VI, danificado nos ataques de 8 de janeiro que voltou ao Palácio do Planalto. O diplomata, explicou que o país europeu viu na restauração do relógio pertencente a Dom João VI uma oportunidade para “mostrar o que sabe fazer”, e ajudar a cuidar do patrimônio histórico brasileiro.
A peça foi lançada ao chão e quebrada por um dos bolsonaristas que invadiu o Palácio do Planalto durante os atos de 8 de janeiro de 2023. A Suíça, país conhecido pela excelência na fabricação de relógios, se ofereceu para realizar o reparo sem custo ao governo brasileiro.
Em entrevista ao Correio, Lazzeri afirmou que o relógio foi restaurado à sua condição original, mas é “um idoso com mais de 300 anos” e precisa de manutenção rigorosa. O item foi confeccionado com peças de bronze e até de casco de tartaruga, o que foi descoberto durante a reparação. O relógio de mesa foi fabricado por Balthazar Martinot e André Boulle no século XVII, presenteado ao rei de Portugal Dom João VI e trazido para o Brasil em 1808.
Como foi o processo de restauração?
Depois dos eventos de 8 de janeiro, a Suíça, em cooperação com a Audemars Piguet, produtora de relógio histórica suíça, ofereceu a sua cooperação para restaurar o relógio. Foi necessário estabelecer um acordo bilateral entre a Suíça e o Brasil. O relógio foi transportado para a Suíça, com o correio diplomático, e Audemars Piguet reuniu os melhores especialistas relojoeiros que existem.
O que foi necessário para restaurá-lo?
O relógio é um idoso, né. Ele precisa de todo o cuidado necessário. Então, especialistas de mecanismos, dessa parte em tartaruga… Foram necessárias mais de mil horas de trabalho desses especialistas, e todo o time foi coordenado pela Audemars Piguet. O relógio voltou a funcionar, está funcionando, e agora o desafio é a manutenção.
Ele precisa de mais cuidado por ter sido recuperado?
Ele foi restaurado, levando a uma situação, eu diria, como aquela original. Agora, claro, como eu falei: ele é um idoso, que tem mais de 300 anos. Então você tem que cuidar dele, tem procedimentos. Uma coisa importante foi que também a Suíça formou alguns funcionários brasileiros para cuidar do relógio. Não é só a restauração, mas também como cuidar e manter ele assim.
O que motivou a Suíça a se oferecer para a restauração?
Somos o país do relógio. Temos a experiência. E, sobretudo, o espírito nosso foi de cuidar do patrimônio histórico. É fundamental, porque é cuidar da identidade de um país. Nós temos essa experiência de restaurar relógios antigos, então isso foi uma ótima oportunidade também para compartilhar o que a gente sabe fazer.
Fonte: Correio Braziliense