Países estão comprometidos a romper o ciclo do ‘mal desenvolvimento’
Emmanuel Lenain/ Embaixador da França no Brasil
Fonte: Folha de São Paulo
Cerca de 2,4 bilhões de pessoas vivem em situação de insegurança alimentar. Um terço da população mundial é afetada por pelo menos uma forma de desnutrição : subnutrição, deficiência de micronutrientes, sobrepeso e obesidade. Embora a produção alimentar mundial seja suficiente para atender à demanda global, observamos retrocessos preocupantes: 148 milhões de crianças com menos de 5 anos sofrem de atraso no crescimento, 45 milhões estão em situação de desnutrição aguda e 37 milhões têm excesso de peso.
Durante os mil primeiros dias de vida, esses problemas têm consequências físicas e cognitivas irreversíveis, além de fortalecer o ciclo da pobreza. As meninas e as mulheres são geralmente as primeiras vítimas da desnutrição, sendo também elas que assumem, na maioria das vezes, a responsabilidade pela alimentação familiar. As desigualdades socioeconômicas, de gênero e de acesso aos serviços de saúde, os sistemas alimentares inadequados, os sistemas educativos deficientes, os choques climáticos e sanitários e os conflitos são as principais causas da desnutrição. A inação também tem um custo alto: US$ 41 bilhões nos dez próximos anos.
O Brasil é um exemplo em matéria de luta contra a insegurança alimentar e nutricional e de inclusão social. Comprometido com a erradicação da fome até 2025, o governo Lula já conseguiu tirar 24,4 milhões de pessoas da situação de insegurança alimentar em 2023 e lançará a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza na Cúpula do G20 em novembro.
A França tornou a luta contra a insegurança alimentar e a desnutrição uma prioridade internacional. Nossa abordagem transversal tem como foco os mil primeiros dias de vida e a promoção de dietas saudáveis, diversificadas e sustentáveis. O ano de 2025 será crucial, pois marcará o fim da Década de Ação para a Nutrição, prazo fixado pelas Nações Unidas para o alcance dos objetivos sobre esse tema.
A França e o Brasil compartilham o compromisso de lutar contra a fome e a pobreza, promovendo, ao mesmo tempo, sistemas alimentares saudáveis, sustentáveis e justos. Nossos países copresidem, ao lado da Finlândia, a Coalizão Global para a Alimentação Escolar, com o objetivo de possibilitar, até 2030, que todas as crianças tenham acesso a uma refeição escolar nutritiva por dia.
Em 2025, a França sediará em Paris, nos dias 27 e 28 de março, a cúpula Nutrição para o Crescimento (N4G). Esse evento, tradicionalmente realizado pelo país-sede dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, tem como objetivo gerar compromissos financeiros e políticos concretos para combater a desnutrição em todas as suas formas.
A N4G realizada em Tóquio, em 2021, resultou em importantes compromissos, incluindo US$ 42,6 bilhões em compromissos financeiros. O Brasil se comprometeu, junto à França, a tornar o combate à desnutrição uma causa universal. O combate à desnutrição é um meio de romper o ciclo do “mal desenvolvimento”. É também um investimento eficaz: 23 euros de PIB para cada euro investido, de acordo com o Banco Mundial.