“Os protestos liderados pelo povo entraram numa nova fase, convertendo-se num levantamento. Prevejo algo muito pior: uma guerra civil ou uma revolução”, disse hoje à agência Efe o porta-voz do CNA Salai Htet Ni, falando a partir de um local indeterminado na província de Chin, no oeste do país, junto à fronteira com a Índia.
A guerrilha planeia pôr fim ao acordo de cessar-fogo que assinou com o Governo de Myanmar (ex-Birmânia), perante a necessidade de se colocar ao lado da população que enfrente a repressão militar e policial, que já fez cerca de 550 mortos.
“Não podemos ficar de braços cruzados e não fazer nada enquanto as tropas da junta militar continuam a matar manifestantes. Devemos colocar-nos do lado dos sonhos e dos apelos do povo de Myanmar até ao final”, referiu.
Salai Htet Ni defendeu que, nesta altura, “os grupos étnicos armados têm agora um inimigo comum”, devendo unir-se “e lutar pela restauração da democracia em Myanmar”, respondendo a um pedido já feito por deputados eleitos no país.
Quase todas as minorias étnicas, incluindo os chin, kachin, karen, kokang, kayah, mon, rakain, shan e wa reclamam uma maior autonomia para os seus territórios, e, juntas, representam mais de 30% dos 53 milhões de habitantes de Myanmar.
Uma das medidas da CNA para proteger a população é ajudar manifestantes ou membros das forças de segurança que recusam cumprir as ordens do exército a fugir para a Índia, que partilha mais de 1.600 quilómetros de fronteira com Myanmar.
No dia 12 de março, o Ministério do Interior da Índia tinha informado os estados nordestinos que fazem fronteira com Myanmar (Mizoram, Nagaland, Manipur e Arunachal Pradesh) para tomar as medidas necessárias para deter a passagem ilegal de birmaneses.
Nova Deli justifica a sua posição por não fazer parte da Convenção dos Refugiados de 1951, pelo que, apesar de condenar a violência em Myanmar e pedir a restauração da democracia, não tem a responsabilidade de abrir fronteiras nem aceitar pedidos de asilo.